Desejar um corpo belo, forte e rápido era uma constante na Grécia Antiga. Isto porque as divindades cultuadas eram consideradas semelhantes aos homens em virtudes e defeitos. Segundo eles, o que os diferenciava era a imortalidade, além de força, velocidade e beleza superiores.
Sendo assim, buscar esse ideal do corpo era se aproximar dos deuses e, com isso, da perfeição. A atenção especial aos treinamentos atléticos também provinha da intenção de reunir soldados fortes e resistentes.
Os mais famosos e importantes jogos esportivos da época eram os Pan-Helênicos, que incluíam os tão celebrados Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia para homenagear Zeus, o deus supremo.
Visitar a área arqueológica da cidade e o estádio original onde se disputaram os jogos há quase três mil anos nos ajuda a compreender as competições que movem o mundo todo ainda hoje. A região abriga também ruínas dos Templos de Zeus e Hera, o estúdio do escultor Fídias, bem como a academia onde os atletas se preparavam.
Durante o período de jogos foi estabelecida uma “Trégua Sagrada” para que os cidadãos pudessem se deslocar até Olímpia e aplaudir os atletas. Se as guerras geravam medo e inquietação, as disputas dos jogos eram precedidas de disciplina, respeito e uma alegre expectativa. Algumas das modalidades de competição, praticadas sempre por homens nus, eram o lançamento de disco, as corridas equestres e as lutas.
Os primeiros registros dos vencedores datam de 776 a.C. Além da coroa de folhas de oliveiras, eles ganhavam a tão desejada honra, que a longo prazo resultava também em refeições gratuitas para o resto da vida, uma estátua e um poema em sua homenagem.
Bem que as odes triunfais de Píndaro, poeta de Tebas, previam que a glória olímpica continuava após a morte. Em sua sexta coleção de odes, denominada “Olímpica” e feita em honra do vencedor de uma corrida das chamadas “quadrigas”, espécie de charretes gregas, ele diz:
É já tempo, ó meu Fíntis (nome do atleta),
De atrelar os cavalos, quanto antes,
Para que eu possa subir a uma quadriga
E, percorrendo a pista ilustre deste canto,
Chegar à descendência dos heróis. (Ol, VI, 27)
Em 394 d.C., o Imperador Romano cristão Teodosio I determinou que os jogos fossem cancelados por serem pagãos, uma vez que celebravam os diversos deuses da cultura grega. Foi apenas em 1896 que os jogos foram retomados, com adaptações e mudanças, no Estádio Panatenaico de Atenas. A chama de cada Jogo Olímpico moderno ainda é acesa na Antiga Olímpia, por meio de um reflexo da luz do sol, e carregado com a tocha para o local onde os jogos serão realizados.
A história nos ajuda sempre a rever e compreender melhor a sociedade na qual vivemos. Ainda hoje há quem busque os corpos celestes dos mármores helênicos. E, sem ter lido Píndaro, quem almeje o cumprimento da promessa de suas odes triunfais: a imortalidade. Que sentir de perto a poética competitiva de Olímpia nos traga clareza para interpretar o presente e nos entusiasme na busca por atingir o nosso próprio potencial. O atlético, claro, mas não só.
O que apreciar em Olímpia: