Temos muito orgulho de contar que para toda viagem comprada na Goya, viabilizamos a entrega de dois quilos de alimentos a pessoas em situação de insegurança alimentar. Temos como parceira a organização Banco de Alimentos, que atua com campanhas de educação e ações efetivas para conter o desperdício.
Os aprendizados que estamos tendo ao andar lado a lado com essa iniciativa são infinitos e estamos nos sentindo ainda mais completos ao compreender nosso papel social e nossa capacidade de ajudar a minimizar e combater o descarte de comida e os efeitos da fome, que ainda atinge uma a cada quatro pessoas no nosso país.
Conversamos com Luciana Chinaglia Quintão, fundadora e presidente da ONG Banco de Alimentos. Na entrevista exclusiva à Goya, Luciana nos lembra que podemos todos ajudar na construção de um país melhor, conta sobre os alimentos mais desperdiçados nas casas dos brasileiros e dá dicas de aproveitamento integral dos ingredientes.
O que o desperdício diz sobre nós enquanto indivíduos?
Antes da pandemia, 52 milhões de pessoas no Brasil viviam em situação de insegurança alimentar. Hoje são 116,8 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar, sendo que, entre estes 19 milhões de brasileiros passam fome, segundo dados da recente pesquisa da Rede PENSSAN (detalhes na sequência). Insegurança alimentar significa a falta de alimentos para o suprimento das necessidades humanas básicas diárias.
Por outro lado, no Brasil, 27 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas, em média, a cada ano, levando em conta toda a cadeia alimentar, da produção ao consumo final, segundo dados da FAO/ONU – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.
Cabe a cada um de nós não ser indiferente à realidade que nos cerca e entender que de um lado temos várias fomes (de comida, de educação, saúde… ) e de outro grandes desperdícios. A sociedade precisa se conscientizar sobre esta questão, incentivando mudanças na cultura do desperdício para que a fome seja combatida na sua origem, na forma como atuamos na sociedade.
Cada brasileiro, seja qual for a sua profissão, deve ser também um médico social, um cidadão a serviço de um bem maior, da construção de um país melhor para todos.
Você acha que o nosso culto ocidental ao “belo” tem alguma influência no desperdício?
Segundo análise da ONG Banco de Alimentos, com base em dados da Embrapa, o desperdício de um terço de alimentos que ocorre em toda a cadeia alimentar tem a seguinte origem:
• 10% no campo;
• 50% no manuseio e transporte;
• 30% nas centrais de abastecimento;
• 10% nos supermercados e consumidores.
Se o desperdício de alimentos fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa do planeta. E não falamos apenas do desperdício de alimentos, mas do uso de água, desmatamento de terras, poluição do solo e dos rios para produzir alimentos que não chegam às pessoa. Então, vários fatores influenciam o desperdício em toda a cadeia de produção e teriam que ser evitados. Acredito que o desperdício tem que ser pensado em todas as etapas da cadeia alimentar, da produção, passando pela indústria, até chegar à casa das pessoas. Em todas as etapas é preciso atuar com responsabilidade e promover o consumo consciente.
No que se refere ao “belo”, há alguma influência na ponta final, quando o consumidor muitas vezes descarta alimentos bons para o consumo mas que não têm uma aparência bonita. As frutas, por exemplo, não devem ser descartadas apenas porque são pequenas ou porque têm alguma mancha, pois podem estar perfeitamente boas para o consumo.
Qual é o nosso papel enquanto consumidor?
É preciso que todos colaborem, em rede, se comunicando de forma eficaz e praticando o consumo consciente: além do consumidor final em si, os produtores de alimentos, estabelecimentos agroindustriais, distribuidores e comerciários (atacado e varejo, os quais integram a cadeia produtiva), administrações, órgãos e demais autoridades públicas.
Equacionar a oferta e a demanda também é importante, em todas as etapas, assim, o produtor não joga fora quando não encontra compradores; ou uma família prepara apenas o necessário para o número de pessoas que vai sentar à mesa, sem exagero; os restaurantes e food services em geral também têm que ter um bom planejamento para a demanda, a fim de não estocar produtos além do necessário… e assim por diante.
O que fazer para não jogar comida fora?
Segundo dados da EMBRAPA, em estudo com a FGV, a dupla arroz e feijão, símbolo da culinária brasileira, representa aproximadamente 38% do montante de alimentos jogados fora no Brasil, considerando o total de alimentos na ponta final do consumo, ou seja, no varejo e nas residências.
O ranking dos alimentos mais desperdiçados mostra arroz (22%), carne bovina (20%), feijão (16%) e frango (15%) com os maiores percentuais relativos ao total desperdiçado pela amostra pesquisada. Entre os motivos do desperdício está a busca pelo sabor e a preferência pela abundância dos consumidores brasileiros. O não aproveitamento das sobras das refeições é o principal fator para o descarte de arroz e feijão, de acordo com a análise dos especialistas.
Para evitar jogar comida fora, é muito importante que as pessoas consumam de forma consciente, planejando as quantidades que de fato serão consumidas, sem exageros, a fim de evitar que alimentos bons para o consumo sejam jogados no lixo.
Com o trabalho de vocês, descobrimos que cascas, caules, sementes e outras partes do alimento são comestíveis e tão benéficas para a saúde quanto o convencional. Pensando nisso, alguma dica para sair do comum e experimentar o consumo integral dos alimentos?
O Aproveitamento Integral dos Alimentos traz muitos benefícios, variedade de cardápio, aumento do valor nutricional das refeições, melhor utilização de recursos naturais, economia e diminuição do lixo orgânico.
A principal dica para quem deseja consumir os alimentos de forma integral é pesquisar e experimentar. Observem os alimentos que mais são consumidos em suas casas e comecem por eles, por exemplo: Consomem muita banana, mamão e melão? Pesquisem receitas com casca de banana, com casca de mamão e com casca de melão. Páginas do Instagram, vídeos no Youtube, sites e blogs (principalmente da ONG Banco de Alimentos) postam diversas opções nutritivas, balanceadas e fáceis de preparar.
Alguns exemplos clássicos são: brigadeiro com casca de banana, bolo com casca de mamão, refogado de casca de melão e petisco de semente de melão, receitas que podem ser encontradas no site da ONG Banco de Alimentos.
É muito importante que as pessoas compreendam que o alimento não precisa ser consumido por inteiro no mesmo dia, nem na mesma preparação. As demais partes podem ser higienizadas e armazenadas em refrigerador (3 dias) ou congelador (30dias).
Por exemplo: Se a pessoa consome bastante abóbora, ela não precisa consumir a casca, polpa e semente no mesmo dia ou na mesma preparação. A casca da abóbora pode ser consumida com a polpa (em receitas como abóbora assada, kibe de abóbora com casca), mas também pode ser consumida separadamente em uma receita de petisco de casca de abóbora. A polpa da abóbora pode virar um purê ou um doce e a semente pode virar um petisco ou uma farinha, para ser consumida no lanche da tarde. O que não for usado pode ser armazenado e utilizado nos próximos dias.
Para mais detalhes e informações acesse: https://goyaprod.wpengine.com/contato/ ou ligue para + 55 11 2394-2136