ENTREVISTA: BALDER, O XAMÃ DO PALMAÏA – THE HOUSE OF AÏA, FALA SOBRE MEDO, OPORTUNIDADE E ESPERANÇA

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Localizado na Riviera Maya, o maravilhoso hotel Palmaïa – The House of AïA nasceu sobre pilares que visam a sustentabilidade e o bem estar. Lá tudo é de uma sutileza mágica e nos leva a viajar por camadas mais profundas da alma. Balder, o xamã e guia de crescimento pessoal do hotel, desenvolveu o Arquitetos da Vida, um programa especial para os hóspedes, com uma série de práticas, cerimônias e rituais ancestrais diários que têm como objetivo trazer mais autoconhecimento e, com isso, nos ajudar a viver de forma mais harmoniosa e feliz.
Balder passeia pelos corredores do Palmaïa com a sua túnica branca, uma fisionomia serena e seus longos cabelos soltos, que parecem guardar as respostas para todos os mistérios da vida. Criado desde o seu nascimento pelos princípios xamânicos, ele é também especialista em reflexologia, quiromancia, astrologia e mitologia.

 

O que é o xamanismo?
Todos os humanos por natureza, tem a facilidade de nos comunicar com a consciência, experiência, de diferentes seres. O nosso estilo de vida e conceitos atuais, nos impedem de entrar em contato com essa capacidade. O xamã ou guru, é uma pessoa que não vive limitada por esses conceitos e usa todas as capacidades que o humano tem.

As plantas têm consciência, inteligência – isso está provado cientificamente. Elas têm 15 sentidos a mais que os humanos. Têm amigos, se conhecem entre si, compartilham nutrientes… Não são apenas “coisas”, mas seres que têm consciência, memória e lógica. O mesmo acontece com os animais.

Quem tem a facilidade de escutar os conhecimentos desses seres, faz coisas que parecem sobrenaturais, mas na realidade são as coisas mais simples e naturais do mundo. Nossas abuelitas (avozinhas), nossos ancestrais, sabiam como curar com plantas, com a chuva, com o sol, porque as capacidades do corpo estavam totalmente abertas. Mas depois do ano 300 d.C., passou a ser um esforço muito grande, porque as pessoas deixaram de estar em contato com a natureza.

Aí aconteceu a famosa caça às bruxas e a partir disso, de um modo inconsciente, qualquer pessoa que nos diz saber se comunicar com os animais ou ter alguma habilidade menos comum, é mal vista, porque resgatamos a memória de que isso era perigoso.

<< Então o xamã não é uma pessoa especial, mas alguém que pode utilizar todas as suas capacidades de ser humano. >>

Xamã
Xamanismo

Acho que todos os hóspedes que chegam ao Palmaïa estão em busca de alguma coisa, certo? O que as pessoas buscam hoje?

Tem sido muito interessante observar o tipo de pessoa que vem ao Palmaïa, porque na maioria das vezes, de forma inconsciente, estão prontos para curar processos que trazem de muito tempo. E é muito bonito de ver que quando elas se entregam a este cenário, às atividades propostas e à nossa comida, dentro delas se abrem novas possibilidade e muitas coisas que já estavam amadurecidas se curam. A cura chega quando a pessoa está pronta para isso.

Cada doença é uma alerta do corpo para que a gente dê atenção a um aspecto específico da nossa vida. No momento em que dada circunstância é resolvida, a cura vem, seja de modo natural ou de modo normal, com alopatia ou o que seja… Mas a cura sempre acontece quando a pessoa libera um padrão mental ou um conceito que impede a plenitude.

Ritual Xamanico, Palmaia

 

Vejo ao meu redor muitas pessoas em crise, procurando o caminho de volta a si, tentando se “reconhecer”. Como nos conectar mais conosco e com a nossa essência?

O que nos distancia de nossa essência é a busca pela perfeição. Quando estávamos conectados com a natureza, sabíamos que éramos perfeitos, por isso não sentíamos medo. Agora, como já não estamos mais tão conectados, vem o medo de não sermos suficientemente bons. Então, no momento que buscamos a perfeição, estamos aceitando a ideia de que não somos perfeitos, de que não temos valor. Cada vez que não reconhecemos nossa própria natureza, nossos medos, falhas, imperfeições, com o objetivo de aparentar perfeição, estamos deixando muito de quem somos de lado.

Mas no momento em que deixamos de dar força à nossa identidade e começamos a nos conscientizar de como manipulamos os demais, quantas mentiras contamos ao dia, como erramos, quais são os nossos defeitos, etc., estamos nos permitindo voltar à perfeição. Porque quando reconhecemos que temos que nos desenvolver, começamos a evoluir.

Quando só “maquiamos” as coisas e estamos preocupados apenas em manter uma identidade perfeita, sem ter um contato com quem somos, há sofrimento, porque a perfeição como concebemos não existe. E não ter um contato com a nossa essência nos machuca de uma forma que nem nos damos conta.

Mas quando nos conscientizamos de que não somos perfeitos e sentimos que está tudo bem com isso, aceitando a imperfeição, então aí podemos realmente enxergar o que nos serve e o que não nos serve; como podemos ter uma vida satisfatória; como fazemos sentido… Não buscamos mais agradar aos outros.

Reconectar com a essência
Reconectar com a essência.

Então agora vamos falar um pouco de Covid. Existe alguma explicação menos científica para a pandemia?

A doença é um sistema do corpo que nos ajuda a reconhecer o que está precisando de atenção. Cada pessoa tem um poder ilimitado, cada pessoa tem todas as possibilidades do mundo, mas suas vidas estão baseadas em programas pré-estabelecidos que vêm de gerações anteriores, onde comportamentos e emoções se repetem. Quando a mente não encontra uma solução porque está limitada a esses programas ou preconceitos, vem a doença.

Ao ampliar sua percepção, mudá-la, e se dar conta de que são as suas decisões que definem seus caminhos, você age, faz algo para ficar bem. Quando sua mente está limitada ao ponto de não encontrar respostas, a doença se manifesta – seja a Covid ou qualquer outra. Esse é o momento no qual a mente se abre e você se dá conta do porquê está precisando daquela experiência para mudar certos padrões, conceitos.

A Covid tem muitas variantes, sintomas e contextos distintos, mas não poder respirar significa não se sentir confortável com a vida, sentir que não se pode desfrutar do que nos rodeia. A Covid é uma forma de controle e restrição. A doença é real, claro, está aí, mas o corpo tem todas as ferramentas necessárias para lutar contra isso. Então o mais importante no caso de uma pessoa ser acometida pelo vírus, é manter-se calma e consciente das suas emoções. Se houver algo guardado, é preciso encontrar uma maneira de liberar esses sentimentos. E, sobretudo, se dar conta de que ao guiar suas emoções com os conceitos adequados, com a perspectiva correta, o corpo pode curar.

Não dá para unicamente acreditar no que nos dizem. É preciso que sejamos honestos conosco, que nos permitamos ver se o que está sendo dito faz sentido, é real, ressoa conosco, nos serve, nos é sutil ou é publicidade, uma maneira de condicionar a mente.

A humanidade sempre encontra alguma coisa para temer e da qual se afastar. Lá atrás foram as bruxas, agora é a Covid.

 

Com isso, as pessoas estão sentindo mais medo. Como se libertar dessa sensação que nos paralisa?

>>O único que temos em nossa vida, o que realmente nos pertence, são as nossas reações. Não temos nada além disso, porque o corpo físico é passageiro. <<

Estamos tão acostumados a nos dizerem o que fazer, o que sentir, o que pensar, o que acreditar, que não nos esforçamos e nem nos preocupamos mais em revisar o que fazemos. Se os demais o fazem, está tudo bem fazer também. “Temos que estar com medo”, então sinto medo. “Temos que estar enojados”, então me sinto enojado.

É uma situação que nos exclui do papel de sermos donos de nós mesmos, de nossas reações. Para se ter clareza das coisas, temos que nos dar espaço para comprovar por nós mesmos o que nos faz sentido.

>> Ter medo é não querer ser responsável por aquilo que se passa conosco. <<

No momento em que você se torna o responsável por si, mesmo que aconteçam coisas horríveis, você está aí para você e para resolver as coisas. O medo passa ao segundo plano: é você quem vai encontrar a solução para os problemas.

Então a melhor forma de trabalhar contra o medo é tornar-se responsável por si mesmo. Quando você espera que outra pessoa venha solucionar as coisas, o medo aparece. Tudo isso que estou dizendo é um pouco rude, sinto muito, mas não consigo dizer de uma forma mais delicada. O medo basicamente é ignorância, uma vez que você descobre mais sobre aquilo que teme, o medo perde o efeito.

 

Que dicas e práticas você sugere para reestabelecer a harmonia e a paz enquanto estamos nesse período difícil, passando a maior parte do tempo em casa?

Essa é uma grande oportunidade para “ver-te a ti mesmo”. Para vermos realmente o que não gostamos no nosso trabalho, por exemplo, o que fazemos por obrigação, com quem estamos vivendo…

>> O que poderia ser algo muito ruim e doloroso, se converte em uma oportunidade para se revisar o que está bom para nós, o que nos faz sentido, o que vale a pena e em que podemos melhorar.<<

Quando temos mais tempo, podemos usá-lo para fazer coisas que sempre quisemos fazer, mas arrumávamos pretextos para não levar adiante. Se você sempre quis estudar um idioma, este é o momento para fazê-lo. Se sempre quis começar a praticar um esporte, agora é a hora.

O mais maravilhoso é que o gênio humano é impressionante e sempre encontra caminhos. Então se dê cinco segundos para sentir medo e depois abra sua mente a novas formas de fazer as coisas. Porque só ficar no medo paralisa e, de qualquer forma, você vai precisar fazer algo algum momento. Então deixa que sua genialidade surja, que a sua mente encontra as respostas, se abra às possibilidades infinitas, porque se não é de uma forma, vai ter que ser de outra, queira ou não.

Então muitas vezes antes da pandemia, as pessoas já estavam em uma inércia terrível, vivendo como robôs, e esse espaço é uma espécie de “tempo forçado” para que elas cortem a inércia e se renovem, façam surgir o melhor delas. Porque não há outra possibilidade: ou surge o melhor, ou surge o melhor.

>>Em chinês a palavra “crise” é a mesma usada para “oportunidade”. <<

 

Qual a mensagem que você deixaria para as pessoas nesse momento?

O ser humano esteve aqui por muito tempo e sempre passou por situações complicadas. A vida em si sempre tem momentos felizes e momentos difíceis.

>>E de cada aprendizado, de cada momento difícil, nasce algo novo, algo melhor, algo que vai ser útil para todos. <<

Mantenha-se atento a si, aproveite essa oportunidade para desenvolver uma relação estreita e amorosa com você mesmo. Aproveite para se tratar com muito carinho e respeito; para honrar cada aspecto da sua existência; para que quando essa situação termine, que você se tenha. Se tenha como seu melhor amigo, aliado e fiel companheiro. E que, então, seu coração possa ficar tranquilo, que já não tenha que depender do que se passa do lado de fora, senão do que está realmente aí para ti.

E no momento que conseguir fazer isso, vai ser muito mais fácil poder compartilhar, porque quando desenvolve uma relação de respeito consigo mesmo, é fácil respeitar os demais, entendê-los, ser carinhoso.

Então esses são tempos difíceis, mas que vão tirar o melhor de muitas pessoas, da humanidade. Esteja atento e alerta. Mas se lembre que quando momentos melhores chegarem, você estará mais forte, mais você.

Rituais espirituais feito no Palmaia

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