Confira a curadoria de exposições que estão rolando em galerias de arte localizadas em diversas cidades para você visitar!
Arte FASAM Galeria, em Belo Horizonte
08 de julho a 02 de setembro – Nó em pingo d’ água, individual de Ana Elisa Gonçalves:
Ana Elisa Gonçalves (1996) é uma artista que investiga experiências íntimas que carregam coletividades. Natural e residente de Belo Horizonte, Minas Gerais, observa as oralidades ao seu redor e exalta o seu cotidiano. Busca o que há entre a memória e o corpo que merece ser descrito, enaltecendo vivências do feminino e contradições de seu território de origem. Agregou a suas diversas formações a graduação em Artes Visuais na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Expôs em instituições como Inhotim(MG) na Galeria Lago, Fundação Clóvis Salgado(MG), FUNARTE MG Fundação Nacional de Arte de Minas Gerais e no Centro Cultural SESIMinas/FIEMG.
“Influenciada diretamente pela contribuição do barro na comunidade tradicional em que minha família materna nasceu, uma região ribeirinha da cidade de Salto da Divisa do Vale do Jequitinhonha, no estado de Minas Gerais, minhas obras quase sempre se resolvem pela extrapolação da materialidade. Há também, a influência do barroco mineiro advinda das tradições da cidade de minha família paterna, vinda de Ouro Preto antiga capital de Minas Gerais. Esses dois extremos de um mesmo lugar, fazem parte da minha subjetividade e guiam minhas produções.”
Amparo 60, em Recife
07 de julho a 06 de agosto – Vértice – Clara Moreira e Fefa Lins:
A exposição tem curadoria de Clarissa Diniz e o duo apresenta 14 trabalhos, muitos deles inéditos. As questões de gênero, maternidade e território surgiram, tanto no que aproxima, quanto no que diferencia e singulariza. De acordo com a curadora, as relações entre “o gênero do retrato” e o “retrato de gênero” – que marcam as duas produções – foram o ponto de partida da mostra que se expandiu, lançando luz também sobre os processos de ateliê, os textos, as narrativas escritas e registradas por cada um dos artistas durante seus processos de criação.
Segundo o texto de Clarissa: “Fefa e Clara compartilham interesses pelo retrato enquanto gênero (ambos se filiam a dimensões canônicas do desenho e da pintura, tensionando-as) e pelos gêneros (no sentido da identidade de gênero) implicados nas políticas de representação. Acredito que, assim, inscrevem suas vizinhanças a uma história da arte que é amplamente clássica, eurocentrada, branca e masculinista desde uma torção: a de protagonizar o corpo da mulher, o corpo transgênero, a experiência da maternidade. O fazem também ao investigar a tradição da alegoria e da fabulação na arte, mas não anseiam transformar suas obras em
janelas do poder tal como têm feito as alegorias históricas (especialmente produzidas pela igreja, pelas monarquias e pelo Estado). Acredito que fazem uso dessa tradição alegórica e retratística para colocar em primeiro plano a dimensão cotidiana e quase invisível da vida e da subjetividade, que encontram um imaginário (que adquirem corpo, imagem, carnalidade) em suas obras, fazendo com que aspectos de suas vidas íntimas possam habitar o espaço público e, dessa forma, transformá-lo na mesma medida em que ele é ocupado por suas perspectivas.”
Galeria Marilia Razuk, em São Paulo
17 de junho a 05 de agosto – A cabeça de Jorginho – Rafael Alonso:
A mostra, composta por aproximadamente 50 obras, traz um conjunto de intervenções na arquitetura da galeria, com pinturas realizadas diretamente sobre as paredes e cerca de 30 obras inéditas em tamanhos, formatos e com materiais variados.
Em comum, os trabalhos trazem cruzamentos entre alguns repertórios do campo da arte e visualidade mundana relacionada com o imaginário tropical, praiano e esportivo do Brasil.
O pensamento crítico que anima o trabalho de Rafael Alonso é incisivo e implica o humor. O título da exposição refere-se a um personagem criado pelo artista. O Jorginho mencionado ali é um pintor “jovem” e “inconsequente”, filho da Mãe Mercado e do Pai História. Mas o cara é mimado mesmo por sua Vovó Pintura, que o tempo todo lhe atende os caprichos e lhe oferece paparicos, como um delicioso bolo de paisagem invernal, com muita tinta cremosa, nas cores azul e branca. Jorginho gosta de adrenalina e velocidade, pilota moto, pratica jiu-jitsu e só faz aquilo de que gosta. Para ele, “não há moral, não há conflito, apenas flutuação”. Ué, alguém chamou isso de “arte contemporânea”
A história de Jorginho foi escrita por Alonso como capítulo de sua tese de doutorado, defendida no ano passado, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A narrativa surge na mostra contada por uma voz feminina, reproduzida nos alto-falantes que
compõem um dos trabalhos, Stardust Memories (2023). A obra completa-se com uma pintura em preto e branco e na qual estão representadas projeções da logomarca do Banco Nacional, concebida pelo artista e designer gráfico Aloísio Magalhães, no começo da década de 1970. A marca do extinto banco popularizou-se em âmbito mundial por meio do esporte, estampada no carro, no capacete e nas roupas do piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, alçado, por sua vez, à condição de herói nacional na segunda metade dos anos 1980. Todos esses dados e imagens formam a cabeça de Jorginho.
Mas o que está na cabeça do tal Jorginho? Parece que é ali que a austeridade das formas abstratas, o juízo sobre faturas pictóricas e as regras do “bom gosto” são atropeladas por combinações vibrantes de cores, inclusive fluorescentes; pelo chichê do “espetáculo natural” das luzes nos céus litorâneos durante o pôr do sol; pelos degradês que estampam tantos e tantos itens da cultura visual do surf; por objetos largados e recolhidos das ruas; pela música pop, de rádio FM, dos anos 1980; pelo aspecto tecnológico das aberturas de programas televisivos da Rede Globo; pelas imagens de araras, coloridíssimas, em pleno vôo; pelos corpos, sungas, biquínis e óculos escuros com lentes espelhadas de banhistas em praias do Rio de Janeiro; e, embutidos aí, estão Phil Collins, Hans Donner, Renato Gaúcho e muitos outros.
Usina Luis Maluf, em São Paulo
24 de junho a 05 de agosto – Euclides ao Revés – Antonio Bokel:
Com curadoria de Agnaldo Farias, o texto: “Em uma das pinturas trazidas por Antonio Bokel para essa exposição, tem-se dois círculos pretos com as mesmas dimensões, aplicados sobre um fundo branco, dispostos um ao lado do outro, cuidadosamente emoldurados em madeira, sublinhando os limites do trabalho. Realizado em tinta acrílica num campo de 1 x 2 metros, discretamente dividido em dois –trata-se de um díptico- os círculos estão rigorosamente situados em relação ao meio da tela e às suas extremidades superiores, inferiores e laterais.
Tudo nessa pintura levaria a ideia de rigor, para isso o artista lida com a mesma figura geométrica simples, enunciando-as com clareza. Mas não é bem isso o que acontece. Sua metade esquerda, e com ela o círculo esquerdo, foi subdividido, e a parte intermediária, a terça parte da pintura como um todo, atacada por uma força ascensional, foi ligeiramente jogada para cima, desmontando e deslocando o círculo, produzindo dois semicírculos e desalinhando-a do resto. O desnivelamento não é feito de qualquer modo, mas com exatidão: a ponta superior do semicírculo suspendido termina exatamente na moldura de madeira remanescente, enquanto a ponta inferior do semicírculo da esquerda, principia no pedaço levantado da moldura de madeira.
Em uma outra pintura de fundo bege, onde um retângulo preto encaixado diagonalmente numa tela de 1,5 x 2 metros, quase apoiado em um círculo preto encostado no limite inferior da pintura e que está escapando pela lateral direita, recebe o ataque direto de dois triângulos brancos. O maior, arranjado no eixo da pintura, é obtido por um recorte literal feito na pintura, que incorpora a parede fazendo-a invadir e atravessar o retângulo preto até atingir seu ponto médio. Por sua vez, os dois vértices pontiagudos do triângulo menor afrontam o limite esquerdo da tela e o retângulo preto, respectivamente.
Essas duas telas bastariam para demonstrar a segurança com que Bokel lida com os limites da pintura, uma trilha que no nosso país foi mais explicitamente aberta por artistas como Volpi, Lygia Clark, e que ele explora incorporando e ampliando lições deixadas pelos norte-americanos da Hard Edge e os franceses do Supports-Surfaces, decisivos na ruptura do formato quadrangular da pintura, no pensamento da moldura como parte da pintura, entre outros pontos. Nosso artista tem um notável domínio da plasticidade de figuras geométricas elementares, e por meio de operações como recortes, rebatimentos, sobreposições, combinações assimétricas, vai demonstrando tanto em pintura quanto em escultura como todas estão implicadas umas nas outras.
Parte dos trabalhos recentes de Antonio Bokel, escolhidos para compor essa exposição, leva a pensar em como seu desejo de rigor e precisão alimenta-se do erro e do desvio calculado, termos diferentes entre si. O artista opera sistematicamente com o desvio, a falha e o desastre. À lógica insofismável da geometria, à segurança e previsibilidade que ela propõe, ele opõe sobressaltos e sombras. O artista adiciona problemas variados em suas pinturas e esculturas, como a contraposição entre formas nítidas e borrões, entre formas produzidas com o auxílio de régua e compasso e manchas resultantes do extravasamento do gesto, desobrigado de elaborar construções, entre produtos da indústria e produtos que resultam de manufatura. Em suma, em seus trabalhos é recorrente a convivência entre vetores divergentes, como os de natureza impulsiva ou de matriz vernacular, tradicional, e outro alinhado à racionalidade.
A tensão entre termos contrários aprofunda-se em outras séries, como as constituídas por pedaços toscos de madeiras encontradas e juntadas em composições assimétricas, recobertos por cores e figuras geométricas que não encobrem a matéria que lhes servem de suporte. Digno de menção a fenda aberta por uma pedra num bloco de madeira pintada de branco com um círculo preto, uma lembrança da natureza interferindo incisivamente nos propósitos humanos.
Babel, escultura de 2 metros de altura, que Bokel realizou em 2015, 5 blocos de cimento irregularmente empilhados em razão das mãos forjadas em bronze em que estão escorados, realça um dos compromissos do artista com o tempo presente, qual seja o intervalo abissal existente entre o que se deseja e sua realização efetiva, entre as edificações gigantescas e reluzentes que arrogantemente pretendem se impor aos horizontes das metrópoles, e o lixo, as lutas e as contradições que, cá embaixo, ameaçam e efetivamente as vão destruindo.”
Galeria Luis Maluf, em São Paulo
08 de julho a 19 de agosto – Quando eles chegam em casa eu fico feliz – Fraternidade Vilanismo – Frente a necropolítica projetada pelo Estado e o complexo psicoexistencial apontado nos estudos clínicos de Fanon, expostos ao risco de suas existências, Vilões se protegem amando. É ao conduzir suas múltiplas sensibilidades ao repúdio de um ideal supremacista branco, que homens negros firmam agências significativas capazes de desarticular o patriarcado. Tecendo artesanalmente uma prática de cuidado pelas suas vidas, aqui o ato de avisar uns aos outros quando chegam em casa, a Fraternidade Vilanismo inscreve no campo da arte contemporânea o drible: um modo de encontrar saídas, alternativas para a interdição de espaço, como descreve Renato Noguera.
Na vilania destes homens está a oposição às imagens fixadas como norma. Quando um Vilão avisa “Em casa e estou bem”, sabemos que sua vida foi protegida por algo que protege a rua e a noite. Sabemos que o falso reconhecimento facial não o tirou o direito de crescer com seus filhos e família. Sabemos que não houveram tentativas de chicotearem seu corpo. Sabemos que estão vivos. E esses são motivos para estarmos todes ou, quase todes, felizes. Pensando no
contra movimento aos desejos de limitações de suas vidas, a exposição reúne trabalhos individuais, alguns inéditos, dos onze artistas que compõe o coletivo (Diego Crux, Rodrigo Zaim, Rafa Black, Ramo, Renan Teles, Jeff, Denis Moreira, Daniel Ramos, Rodrigo Carinhoso, Thiago Consp, Robson Marques), que traduzem em fotografias, esculturas, pinturas, colagens, palavras e costuragens a dimensão de uma simples demonstração de amor.
07 de julho a 12 de agosto – Reorganizar os líquidos do corpo – Renan Marcondes:
Com curadoria de Galciani Neves. Em sua primeira mostra na OMA desde a mudança da galeria para os Jardins, o artista ocupa o espaço com cerca de doze obras inéditas que giram em torno do corpo e sua influência sobre nossas formas de existir no mundo. Passando por mídias como bordado sobre tecido, fotografia, vídeo, desenho e papel de parede, Marcondes joga com ações de desaparecimento e reaparecimento; presença e ausência e repouso e movimento do corpo.
Ainda na área externa da galeria, o visitante se depara com uma cortina de veludo vermelho que deve atravessar para ter acesso à mostra. Logo na entrada do espaço expositivo está Outro estranho desaparecimento (para Vera Chaves Barcellos), sequência de fotografias que se assemelham a uma história em quadrinhos. As imagens mostram, passo a passo, o artista entrando atrás de uma cortina preta até desaparecer completamente.
O desaparecimento também está presente na série Repousos, formada por quadrados de veludo vermelho bordados com linha de mesma cor. A visualização do trabalho depende do ângulo de observação, obrigando o visitante a movimentar seu próprio corpo para ter acesso a seu conteúdo.A ciclicidade é outro elemento frequente na exposição, caso de Dessa vez vai ser diferente, fotoperformance que se inicia e termina com a mesma imagem. O artista, vestido de vermelho, manipula uma caixa de madeira. Ao fundo, há um papel de parede com os dizeres que dão nome à obra.
Brincando com o corpo e com situações que podem causar estranhamento, o artista nos lembra que somos indissociáveis de nossos corpos e que é através deles que podemos modificar o mundo que nos cerca.
VERVE, em São Paulo
01 de julho a 19 de agosto – Oráculo da Memória – Shai Andrade:
A exposição individual da fotógrafa Shai Andrade (Salvador, 1992), acompanha texto crítico de Luciara Ribeiro. Na mostra, Andrade expõe uma série inédita, que vai de encontro a sua própria ancestralidade através das mulheres de sua família, todas nascidas no recôncavo baiano.Ao revisitar as histórias de sua tataravó, bisavó, avó, mãe e tias, a artista constrói um tarô de memórias, em que cada carta simboliza uma delas. Na costura dessas memórias, realiza 8 autorretratos, nos quais vai revisitar as histórias dessas mulheres e versarsobre as relações afetivas por via de imagens familiares. Na relação destes retratos e suas cartas correspondentes, a sequência de trabalhos é apresentada de tal forma a criar uma experiência circular, em que o tempo é suspenso e a memória emerge de forma espiralar. “Com delicadeza e escuta, a artista constrói tempos não vividos dentro de corpos alheios. A partir de uma relação intensa com objetos coletados em imaginários familiares, em esforços de reconstruir os rastros de sua história ancestral imersa nas vidas das mulheres de sua família, a artista se recompõe como corpo que empresta sua fisicalidade para a imagem”, comenta Luciara Ribeiro no texto que assina para a mostra.
01 de julho a 05 de agosto – C. L. Salvaro:
Com texto crítico de Fabrícia Jordão, a exposição reúne objetos encontrados e ressignificados pelo artista, assim como trabalhos realizados para dialogar diretamente com o ambiente da galeria. Sede do histórico Clubinho dos Artistas e desde 2015 tombado pelo Iphan, o subsolo que abriga a Central Galeria, no prédio do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), em São Paulo, oferece um espaço que supera o cubo branco pela presença de quatro pilares marcantes do final da década de 1940 e pelos quase 15m de parede com concreto aparente. Salvaro não tenta maquiar nada. Assume a presença do lugar e intervém na arquitetura, afim de desvelar o que está velado e colocar em dúvida o que pertence ou não ao espaço expositivo. Jordão observa que o artista “lança mão de procedimentos recorrentes: opera por meio de processos de deslocamentos, acomodações, incorporações, desintegrações, estruturações, fragmentações, junções, rupturas, adição, subtração, sobreposição”.
Danielian Galeria, no Rio de Janeiro
28 de junho a 12 de agosto – Facchinetti (1824 – 1900) – Paisagens (Ir)reais:
As obras vêm de coleções privadas, como a de João Philippe de Orléans e Bragança, de São Paulo, e de Ronaldo Cezar Coelho e Luiz Carlos Ritter, do Rio de Janeiro. Os Museus Castro Maya/Ibram, que abrangem o Museu Chácara do Céu e Museu do Açude, no Rio de Janeiro, emprestarão especialmente para a exposição a icônica obra “Vista do Rio de Janeiro tomada de Santa Tereza” (1892), um dos maiores panoramas da cidade pintados por Facchinetti. Como parte do processo de empréstimo, a Danielian Galeria vai se encarregar do restauro da pintura, a ser feito pelo Ateliê Monica Dias, indicado pelos Museus Castro Maya.
O extremo detalhamento da pintura de Facchinetti, com a primorosa captação de detalhes botânicos, minuciosamente reproduzidos em pinceladas muito pequenas, é um dos fatores de encantamento de sua produção. Para que os visitantes possam observar esses detalhes, a Danielian Galeria irá oferecer aos visitantes pequenas lupas de bolso como brinde da exposição.
Correspondendo às primeiras tendências modernas na arte, Facchinetti pintava ao ar livre em busca de uma captação real tanto da paisagem como da luz e do momento do dia em que foram feitas, como fica expresso em diversas descritivas que o artista colocava minuciosamente no verso das obras, enfatizando quem havia feito a encomenda desta pintura. O pintor primeiro estudava os locais, os horários e escolhia os seus pontos de observação, de onde fazia esboços.
Silvia Cintra + BOX 4, no Rio de Janeiro
28 de junho a 30 de julho – Os Espontâneos dos Perfumistas – Cadu:
A mostra exibirá 17 trabalhos inéditos do artista – divididos em seis séries – que contemplam a sua mais recente produção artística. Uma das características da produção de Cadu é a diluição de autoria e a variedade de linguagens exploradas, através de parcerias com colegas ou materiais. Temos aqui, alguns exemplos dessas amalgamas, comentando tempo, esoterismo, natureza e ciência.
Cadu apresenta Limoeiros do paraíso para a túnica do ornitólogo, um conjunto de pinturas sobre papel, inspirado no poema sufi A Linguagem dos Pássaros, de Farid Ud-Din Attar, do século XII, que retrata uma jornada de rito de passagem e prova de dignidade. As composições são um diálogo entre as linguagens pertencentes ao domínio do desenho e da pintura, congregando tinta óleo com superfícies criadas a partir da técnica da marmorização. O texto islâmico inspira uma fábula íntima criada pelo artista, sobre a relação de um ornitólogo com três perfumistas, sugerindo uma narrativa e originando o título da exposição.
Tectônicas é umas das séries que compõe a mostra, formada por esculturas que o artista produziu após 3 anos de acúmulos de camadas de tinta de uma oficina na qual fica o seu ateliê. Beijo para o mar, uma escultura de chão sonora, feita em parceria com Maneno Llinkarimachiq, produz notas musicais através de apitos, possibilitando diálogos sonoros diversos. Em paralelo, surge a instalação Digital Gesamtkunstwerk em que o artista explora a tecnologia da modelagem e animação digital para a produção de obras de arte, realizada juntamente com Adriano Motta e com trilha sonora de Paulo Vivacqua.
Nácar é uma série nas quais as peças recebem o nome da estrutura calcária que forma as conchas de diversas espécies de moluscos bivalves. Conchas de mexilhões foram gravadas a laser com desenhos criando contos visuais. Por fim, Cadu apresenta Anfisbena, que em grego significa “que vai em duas direções”. É uma escultura realizada em coautoria com o joalheiro e artista Virgilio Bahde, cuja forma engloba elementos animais, vegetais e minerais.
A mostra apresenta 6 séries diferentes que dialogam entre si. Algumas são desenvolvidas individualmente por Cadu e outras contam com parcerias com artistas como Adriano Motta, Maneno Llinkarimachiq e Virgilio Bahde.
Galeria Lume, em São Paulo
20 de maio a 05 de agosto – Faz tempo que aquele buraco não sobe na parede – Nazareno :
A partir da investigação de relações interpessoais e reflexões internas, o artista plástico Nazareno apresenta sua individual “Faz tempo que aquele buraco não sobe na parede”, na Galeria Lume. Com texto crítico de Diego Matos, a mostra apresenta grandes obras de mármore, maciças e corpulentas, mas visualmente lapidadas e brandas, contrastadas as suas próprias abstr
Na sala principal da galeria, o visitante se depara com uma lâmina de mármore com serpentes, sobre a qual é permitido caminhar por entre elas descalço. Considera-se um risco seguir tal caminho de forma vulnerável quando rodeado pelo perigo iminente das cobras? Ou sente-se o alívio de saber que o que o cerca são cascas, o envoltório do que um dia foi perigo, parede de um ser que hoje é outro, ainda que seja o mesmo.
Um grande alvo, imponente, intocável, carnoso e quase vivo, pronto para receber de peito aberto, as flechas impiedosas da vida, também é um receptor de desejos, ambições e instrumento de passagem a uma outra situação. No corredor da galeria, duas cadeiras contemplam a imensidão, juntas, e ao mesmo tempo sozinhas. Travesseiros de mármore, lembrando o visitante do inalcançável mundo do sono, tão distante, preso em sua forma rígida e privilegiada de ser o único lugar no qual se pode sonhar. Será?
Nazareno instiga a subjetividade das palavras que permeiam seu trabalho, estimula o espectador a buscar o que é o buraco, de onde saem os mármores, as ideias e quais paredes sobem ao nosso redor, prontas para exibi-los.
Tudo aquilo que sobe na parede, hoje é buraco.
Galeria Eduardo Fernandes, em São Paulo
24 de junho a 23 de julho – A Casa Flutuante – Shu Lin:
O trabalho de Shu Lin reverbera uma viagem existencial solitária e uma mobilização poética de solidariedade com o mundo. Suas pinturas expressam um imaginário fluido da habitação nômade, de uma complexa topologia de si mesma, à deriva e em contato, ambivalente, fundindo escalas planetárias a gestos tão diminutos e sutis do cotidiano. Seu ateliê está instalado em um sobrado amarelo onde a artista também reside. Além de cultivar cactos e suculentas no jardim, ela também se dedica obstinada à pintura encáustica, tendo criado um enorme acervo de obras ao longo das últimas quatro décadas. Conversando em sua casa-ateliê, buscamos chaves de leitura para sua poética, e elementos de sua biografia forneceram alguns caminhos para pensar com sua produção artística.
Hoje, com sua primeira exposição retrospectiva, A casa flutuante, Shu apresenta alguns frutos de sua produção artística que atravessa o cotidiano e a experiência de, ao mesmo tempo, migrar e construir os sentidos de um lar, de abrigo e acolhimento para além de paredes físicas de uma casa assentada em solo estável. Suas pinturas surgem de perseguições duradouras disparadas por objetos muito simples, corriqueiros, mas carregados de afeto e simbolismo. Uma viagem na qual se perturbam as escalas geográficas, as certezas e a aparente estabilidade de muitas coisas. São as quinas e cantos do ambiente construído da casa, telhados, janelas, fios dos postes, sua gatinha Mimi, palitinhos de fósforo, os temperos de sua cozinha, e as várias panelinhas usadas também em seu ateliê – fundamentais para o fazer artístico, pois nelas Shu derrete a cera e funde os pigmentos para construção da matéria básica de suas encáusticas.
Em cada tela individual e nas séries que compõem polípticos, Shu condensa elementos do cotidiano, composições ambíguas entre familiaridade e estranhamento, permanência e desaparecimento, solidez e fluidez. A série Flutuantes é síntese dessa operação: massas de cor dialogam a distância ou se justapõem formando outras imagens, conjuntos de ilhas na iminência do movimento, o que também aparece nos desenhos Corpo Vivo. E nas séries Recortes um estilhaçamento forma arquipélagos partindo de uma mesma paisagem ou arquitetura que se constroem e se desmancham simultaneamente. Uma tensão entre dentro e fora também se apresenta na série Enigmas, elementos que insinuam vastidões interiores, como linhas de um horizonte oceânico ou desértico que também habitam os cantos de um cômodo, de uma gaveta, ou de sonhos e memórias quase perdidos.
Millan, em São Paulo
24 de junho a 22 de julho – Pedras e bichos d’água – Marina Woisky:
O texto crítico da exposição é assinado pelo curador Germano Dushá. A mostra é composta apenas por obras inéditas, criadas a partir da apropriação de imagens e combinação de processos de estamparia, costura e preenchimento de tecido com cimento e manta acrílica, transformadas em animais e paisagens que se mesclam em imagens intricadas de cenas extraordinárias e quiméricas.
A artista utiliza como substrato para sua produção imagens de objetos decorativos e de ornamentos com representações de animais e da natureza — como caixas de laquê, esculturas de jade da Ásia e ornamentos arquitetônicos do barroco brasileiro. Woisky, então, expande, recorta e edita essas imagens, que depois ganham intervenções com costura ou pintura antes de serem “estofadas” com uma mistura de cimento. Algumas das peças são, ainda, cobertas com resina, que as deixam com um aspecto brilhoso de pedras molhadas.
“Interessada pela transmutação da mágica que envolve esses seres e lugares quando inspiram objetos corriqueiros, Marina discute os meandros da produção imagética contemporânea, esmiuçando o estatuto estético da decoração, desde noções mais clássicas, passando pelo pastiche e pelo kitsch, até a cultura de massa e o advento digital”, escreve Dushá no texto que acompanha a exposição.
Como sugerido pelo título, a exposição constitui uma paisagem insólita. Repleta de imagens de cachoeira e de animais, após passarem por dezenas de transposições de mídia e materialidade se tornam difíceis de decifrar, transformadas em seres limítrofes, como se vistos sob a refração da superfície de uma corredeira.
Galeria Leme, em São Paulo
17 de junho a 22 de julho – Nem o céu escapa da vida – Heloisa Hariadne:
Com texto crítico da curadora Priscyla Gomes. Em seu corpo de trabalho, assim como nas obras desta exposição, Heloisa cria atmosferas aquosas e oníricas habitadas por animais, plantas, frutas e seres fantásticos. Suas pinturas são banquetes sinestésicos, que convidam o público a uma experiência sensorial, que extrapola a visualidade.
Ao mesmo tempo, nesse conjunto de trabalhos, a figura humana, predominante em seus trabalhos anteriores, são suprimidas quase por completo. Esta retirada permite a Hariadne outras possibilidades de arranjos dos elementos figurativos sobre a superfície da tela.
Em seu texto crítico, Priscyla Gomes relaciona as pinturas de Heloisa com excertos dos diários cedidos pela artista: “Ter em mãos essas anotações configurou um presente substancial e inadvertido. Uma delicada abertura às elucubrações, aos processos e à constituição do universo imagético de Heloisa Hariadne. Poesia, assim como pintura, é tempo e o coexistir dessas linguagens pressupõe recorrências, ciclos, retornos e reversões. Uma miríade de processos não lineares – nem sempre tangenciados quando entramos em contato com as obras – que podem emergir na ocasião desta exposição”, escreve a curadora.
Que tal criar um roteiro para visitar e se encantar com as exposições?