O ano está chegando ao fim, mas o mês de novembro está super animado com uma programação cultural cheia de novidades e exposições incríveis para visitar!
Confira nossa Agenda Cultural do mês para ficar ligado em tudo o que está rolando na cidade de São Paulo!
Nano Art Hub
09 de novembro – Nano Art Hub no Lar Center – O Nano Art Hub é uma iniciativa que propõe uma nova forma de atuação no mercado brasileiro de arte, visando a democratização do acesso e também o incentivo à educação para esse mercado. Reunindo em um só lugar galerias, instituições, curadores, colecionadores, pesquisadores e demais agentes do sistema da arte, o evento celebra a diversidade cultural e artística do país, inovando e facilitando o acesso à arte.
O Nano Art Hub também tem como missão o fomento à criatividade e inovação, bem como o acesso ampliado à arte e educação. O evento foi organizado em três ciclos diferentes: Colecionismo e Mercado de Arte; Mulheridades na arte e Arte para construir o amanhã e terá uma programação intensiva e diversa de oficinas, talks, visitas guiadas e um setor curado. O evento é uma realização do Lar Center e foi produzido pela Paradoxa Gestão Cultural.
Museu de Arte de São Paulo
20 de outubro a 25 de fevereiro de 2024 – Histórias Indígenas – O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, em colaboração com o Kode Bergen Art Museum, apresenta, de 20 de outubro de 2023 a 25 de fevereiro de 2024, a mostra coletiva Histórias indígenas, que ocupa as galerias do 1º andar e 2º subsolo do museu.
A exposição coletiva apresenta, por meio da arte e das culturas visuais, diferentes perspectivas das histórias indígenas da América do Sul, América do Norte, Oceania e Escandinávia, e tem curadoria de Edson Kayapó, Kássia Borges Karajá e Renata Tupinambá, curadores-adjuntos de arte indígena, MASP, e dos curadores internacionais convidados Abraham Cruzvillegas (Cidade do México); Alexandra Kahsenni:io Nahwegahbow, Jocelyn Piirainen, Michelle LaVallee e Wahsontiio Cross (National Gallery of Canada, Ottawa); Bruce Johnson-McLean (National Gallery of Australia, Camberra); Irene Snarby (Kode /Tromsø, Noruega); Nigel Borell (Auckland, Nova Zelândia) e Sandra Gamarra (Lima, Peru), além da coordenação curatorial de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP. Histórias indígenas tem patrocínio master do Nubank, apoio da Sotheby’s e do Norwegian Consulate, apoio cultural da National Gallery of Australia e National Gallery of Canada e coorganização do Kode.
A mostra traz diferentes perspectivas sobre as histórias indígenas de regiões da América do Sul, América do Norte, Oceania e Escandinávia, com a curadoria de artistas e pesquisadores indígenas ou de ascendência indígena, reunindo cerca de 285 obras de várias mídias e tipologias, origens e épocas – que vão desde o período anterior à colonização europeia até o presente –, de aproximadamente 170 artistas.
A coletiva compreende oito núcleos: sete dedicados a diferentes regiões do mundo, sendo eles, Relações que nutrem: família, comunidade e terra (Canadá); A construção do “eu” (México); Histórias de pintura no deserto (Austrália); Pachakuti: o mundo de cabeça para baixo (Peru); Rompendo a representação (Maori, Nova Zelândia); Tempo não tempo (Brasil); Várveš: escondidos do dia (Sami, Noruega); e um núcleo temático organizado por todos os curadores da mostra, intitulado Ativismos. Para compreender a exposição, é importante levar em conta o significado particular do termo “história”, que abrange tanto a ficção quanto a não ficção, relatos históricos e pessoais, de natureza pública e privada, em nível micro ou macro, possuindo, assim, um caráter mais polifônico, especulativo, aberto, incompleto, processual e fragmentado do que a noção tradicional de História. Em norueguês, o termo partilha um duplo significado semelhante, significando tanto uma interpretação do passado como uma narrativa pessoal.
Apesar de seu alcance internacional e de sua amplitude temporal, o projeto não assume uma abordagem totalizante nem enciclopédica – pelo contrário, o objetivo da mostra é fornecer um corte transversal dessas histórias em uma seleção concisa e relevante, para que esse recorte possa ser justaposto com outros de diferentes partes do mundo.
Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu Afro Brasil Emanoel Araujo
20 de outubro a 03 de março de 2024 – Mãos: 35 anos da Mão Afro-Brasileira – Exposta simultaneamente nas duas instituições, a mostra tem curadoria de Claudinei Roberto da Silva – curador, artista, membro da Comissão de Artes do MAM e curador convidado do MAB Emanoel Araujo – e reúne pinturas, gravuras, fotografias, esculturas e documentos de mais de 30 artistas afrodescendentes brasileiros, populares, acadêmicos, modernos e/ou contemporâneos. A exposição celebra e revisita o legado de A Mão Afro-Brasileira, mostra realizada no MAM, em 1988 – ano do centenário da abolição da escravidão – com curadoria de Emanoel Araujo e que marcou a história da arte do país. A ideia da exposição foi compartilhada com Emanoel Araujo (1940 – 2022), artista, curador, criador e diretor do Museu Afro Brasil, que se entusiasmou em realizar a parceria institucional, mas não pôde ver o projeto concretizado. A atual exposição é, também, uma homenagem das duas instituições ao seu legado. No MAM, a exposição será exibida na Sala Paulo Figueiredo com obras de Agnaldo Manuel dos Santos, Aline Bispo, Almandrade, André Ricardo, Arthur Timótheo da Costa, Betto Souza, Claudio Cupertino, Cosme Martins, Denis Moreira, Diogo Nógue, Edival Ramosa, Edu Silva, Emanoel Araujo, Emaye – Natalia Marques, Eneida Sanches, Estevão Roberto da Silva, Flávia Santos, Genilson Soares, Heitor dos Prazeres, João Timótheo da Costa, Jorge dos Anjos, José Adário dos Santos, Leandro Mendes, Luiz 83, Maria Lídia Magliani, Maurino de Araújo, May Agontinmé, Mestre Didi, Néia Martins, Nivaldo Carmo, Otávio Araújo, Paulo Nazareth, Peter de Brito, Rebeca Carapiá, Rommulo Vieira Conceição, Rosana Paulino, Rubem Valentim, Sérgio Adriano H, Sidney Amaral, Sonia Gomes, Taygoara Schiavinoto, Wilson Tibério e Yêdamaria. E no MAB Emanoel Araujo, as obras de Emanoel Araujo, Denis Moreira, May Agontinmé, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa e Renata Felinto serão exibidas na Biblioteca Carolina Maria de Jesus, ao lado de documentos referentes à exposição de 1988 pertencentes ao Arquivo do MAM.
Casa de Cultura do Parque
28 de outubro a 03 de março de 2024 – Solo Fraturado – Sonia Guggisberg – Trata-se de uma mostra que lança um olhar crítico sobre a crise ambiental de nosso planeta. Criando uma densa tessitura e ao mesmo tempo poética, o conjunto de trabalhos em fotografias e vídeos constroem uma grande parede, apresentando diálogos potentes sobre uma das urgências fundamentais de nosso tempo: a água.
A face ocultada da Represa Jaguari, do Sistema Cantareira, é revelada quase seca. O que estava escondido sob as águas por décadas é exposto, mostrando fragmentos do passado. Óxidos da terra afloram, se espalhando pelo chão em tons avermelhados, criam uma poética da terra que sangra e pulsa no subsolo.
As rachaduras no solo mostram fios de água apontando para pequenos veios de nascentes, remanescentes da represa no meio deste solo erodido. Podendo ser vistos como diálogos reais carregados de metáforas, os veios de água formam uma dualidade com as fissuras, propondo uma reflexão entre o fértil e o árido, o fluido e o rígido; formas que resistem em uma única cena.
Romper, quebrar e partir. Em SOLO FRATURADO a fratura surge como um ato violento. Assim como o osso, que se parte quando não suporta o impacto, o ecossistema se fragmenta perante o descaso social em sua preservação. Onde antes havia fluidez, assume-se a descontinuidade, formada por rachaduras que fragmentam o solo exaurido. Os registros vistos nesta exposição evidenciam memórias de um ato de calamidade que alertam para o futuro.
Nas filmagens, são registrados tratores arrancando tocos e raízes das árvores que habitavam a área antes da represa existir, mostram um grande jogo de forças entre a natureza e a máquina. O barulho do motor a diesel acelerando, a tensão dos cabos de aço e os estalos da madeira rompendo, expõe a crua realidade, mas também propõem uma reflexão sobre o conflito entre a violência do homem e a resistência da natureza.
Os tocos de árvores encontrados no fundo da represa mostram sua história. Após serem cortados, queimados, mutilados e submergidos por 40 anos, ainda resistem quando são retirados. Algumas raízes surgindo lentamente da terra seca brotam como uma imagem sobrevivente na luta contínua de retomar seu espaço.
Os registros realizados por Sonia Guggisberg durante a crise hídrica de 2014, quando a represa chegou a ter 7% de sua reserva, surgem como um alerta de uma crise não resolvida.
Assim como o solo erodido pode ser encharcado novamente pela água, a amnésia social também é estimulada ao silêncio seguindo inerte em suas ações. A fugacidade da memória, somada ao acúmulo de desastres naturais que vivenciamos diariamente, induz a banalização das catástrofes. Visto como algo trivial, pertencente às regras de um sistema econômico extrativista, cria-se a falsa esperança de que tais impasses sejam resolvidos.
Galeria Vermelho
26 de outubro a 23 de dezembro – No fim da madrugada – Lisette Lagnado – Inspirada no poema Diário de um retorno ao país natal, de Aimé Césaire, a mostra examina determinadas imagens que pertencem tanto a arquivos oficiais como partem de reminiscências de ordem subjetiva. A ideia é evidenciar as lacunas dos documentos que constituem o saber historiográfico.
Tendo em vista o status ético da imagem fotográfica, Lagnado trabalhou com artistas de práticas diversas, para quem esse suporte carrega a capacidade de revelar feridas provocadas pela ganância do extrativismo e ocultar cosmologias. Como restaurar um corpo coletivo violentamente desmembrado pela colonialidade, é uma pergunta que encontra ecos nas obras que festejam a manifestação de corpos brincantes e a resistência de espiritualidades dissidentes.
No fim da madrugada reúne trabalhos de: Alair Gomes, André Vargas, Ani Ganzala, Bruno Acervo Bajubá, Carlo Zacquini, Carmézia Emiliano, Clara Ianni, Claudia Andujar, Eustáquio Neves, Rebeca Carapiá, Rosângela Rennó, Tiago Guimarães, Ventura Profana, Vulcanica Pokaropa e Yhuri Cruz.
Sesc 14 Bis
06 de outubro a 07 de abril de 2024 – Constelação Celestina – Paulistano da zona leste, Wagner Celestino nasceu em 1952, e aos sete anos de idade, no auge do Carnaval da Vila Esperança, um dos festejos de rua mais populares da região, encantou-se pelos desfiles da Nenê de Vila Matilde. A partir daquele momento, seu olhar voltou-se para os desfiles de escolas de samba da cidade, como Vai-Vai, Camisa Verde e Branco, Mocidade Alegre, Rosas de Ouro, Peruche e outras agremiações. Da Ala das Baianas à Velha Guarda, o pequeno folião aprimorou um talento: registrar em fotografia e ser o guardião de imagens que aprenderia a captar para preservar a história de protagonistas e manifestações da cultura popular afro-brasileira.
Fotógrafo autodidata, Celestino desenvolveu aptidões necessárias para a revelação e ampliação de imagens, mas, principalmente, para a descoberta sobre a sua própria linguagem estética. Ao fazer um estágio no Museu Lasar Segall, na segunda metade da década de 1970, ele teve a oportunidade de usar o laboratório do espaço, o que lhe deu confiança e autonomia para se lançar no ofício. Aliás, também foi nesse ambiente que as obras expressionistas de Lasar Segall (1889-1957), artista lituano radicado no Brasil, inspiraram o olhar de Celestino, assim como a fotografia do brasileiro Walter Firmo e do estadunidense Gordon Parks (1912-2006). Somam-se, ainda, o fotojornalismo do Jornal da Tarde e da Revista Realidade. De lá para cá, a câmera analógica de Celestino vem focando diferentes manifestações culturais afro-brasileiras em comunidades da capital e do interior de São Paulo.
Na exposição Constelação Celestina – primeira exibição solo do artista –, que marca o início das atividades do Sesc 14 Bis [Leia mais em Estrelas urbanas], o público poderá apreciar alguns registros da trajetória desse artista notável por transitar entre o artístico e o documentário investigativo. Com curadoria de Claudinei Roberto, a exposição reúne obras que percorrem décadas de atuação de Celestino, propondo um passeio por grandes projetos organizados pelo fotógrafo. Um desses exemplos é o conjunto de imagens feitas no final da década de 1980 sobre a vida nos cortiços da cidade, resultando no livro Os Cortiços – A realidade que ninguém vê com prefácio de dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016). “Nessa ocasião, Celestino fez uma série de fotos do que eu chamo de ‘madonas negras’. São mães e seus filhos, que ele fez com uma sensibilidade muito aflorada e conseguiu trazer à tona a dignidade e a inteireza dessas famílias. Isso porque ele conhece a realidade que fotografa, ele participa dela, é um membro da comunidade que fotografa por isso a gente percebe essa densidade política nessas fotos”, analisa Roberto.
Nas palavras do próprio fotógrafo, “atrás do visor da câmera existe uma pessoa com sua formação intelectual própria, com seus conhecimentos e posicionamentos ideológicos e culturais, consequentemente, estes ideais se refletem no fazer e ações fotográficas”. Ao que Celestino complementa: “espero que o meu trabalho fotográfico possa contribuir concreta e positivamente nesta luta constante contra o racismo e para ressaltar a relevância da nossa cultura popular afro-brasileira”.
Galeria Mario Cohen
21 de outubro a 25 de novembro – Uma flor não é uma flor – Edo Constantini – A Galeria Mario Cohen realiza, de 21 de outubro a 25 de novembro, a exposição Uma Flor Não É Uma Flor, do fotógrafo argentino Edo Costantini. Com passagem por galerias em Nova York, Miami, México e Argentina, a mostra marca a primeira vez em que o artista expõe seu trabalho de forma individual na América do Sul. A exposição é composta por uma série inédita de 11 obras, que retratam a efemeridade da natureza.
Com a curadoria de Clara Ríos, profissional com grande experiência e atuação em galerias e museus como o MALBA (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), a exposição reúne fotografias inéditas sobre a impermanência e a fragilidade da natureza, captadas nos arredores de Katonah-Bedford Hills, Nova York, onde o fotógrafo mora e trabalha há dez anos. “À luz da atual urgente crise climática, procuro documentar a própria natureza; a iminência da morte através da mutabilidade das estações que evidencia as mudanças drásticas que estão ocorrendo ao nosso redor. Assim, procuro captar uma história, a abertura de uma flor, o brilho do sol nas folhas secas; a transitoriedade da vida, o fim inevitável de cada uma de suas fases e o nascimento de uma nova vida”, explica Edo.
O trabalho de Edo como fotógrafo gira em torno do sublime da natureza, retratado através de representações etéreas das florestas do norte do estado de Nova York. Suas obras vêm ganhando destaque, sendo veiculadas em importantes publicações como I-D Magazine UK, BIG Magazine Buenos Aires, Jornal La Nación, entre outros, e em 2019, sua série “A flower is not a flower” foi exibida na galeria Olsen Gruin, em Nova York, como parte da exposição de inverno In Sight. Já em 2021, seu trabalho integrou a Rhythms in Nature, do Miami Yoga Garage e, em 2022, a exposição inaugural da Galeria JSL em Miami. Além disso, ainda no mesmo ano, as fotografias do artista estiveram presentes na SP-Arte, em São Paulo, e neste ano de 2023, suas obras foram apresentadas na 13ª edição da ArtRio, em setembro.
Além da fotografia, o artista também se destaca em outras áreas, como compositor e cineasta, produzindo vários filmes premiados, incluindo Tropa de Elite, vencedor do Urso de Ouro em Berlim em 2008, e El llano en llamas, de Guillermo Arriaga, entre outros. De 2001 a 2006, também atuou como diretor executivo do MALBA, Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires.
A mostra, cujas obras estarão disponíveis para compra, será aberta ao público com entrada gratuita no sábado, 21 de outubro. Durante o evento, o fotógrafo também lança o livro Silêncio, uma coletânea com obras fotografadas entre 2013 e 2023, que fazem parte da série fotográfica “A flower is not a flower”. Além disso, a abertura também fará parte do roteiro do Arte Circuito Jardim Europa, que acontece na mesma data, 21/10, ao lado de outras sete galerias da região, com programação especial e vans disponíveis para fazer o circuito ao longo de todo o dia. A exposição segue na Galeria Mario Cohen até 25 de novembro.
Aura Galeria
21 de outubro a 02 de dezembro – Hori: Tukano e Wanano – Dhiani Pa’saro e Duhigó –A Aura inaugura, em 21 de outubro, a exposição “Hori: Tukano e Wanano”, coletiva de Dhiani Pa’saro (1975, São Gabriel da Cachoeira/AM) e Duhigó (1957, São Gabriel da Cachoeira/AM), em parceria com a Manaus Amazônia Galeria de Arte. Com um recorte de trabalhos centrado em diferentes problemáticas que envolvem a arte indígena contemporânea, a mostra atravessa alguns dos elementos centrais que caracterizam a singularidade da produção de cada um desses artistas.
Hori é uma palavra de origem tukano que, para Duhigó, significa o conjunto de grafismos e pinturas rupestres desenhados pelos ancestrais dos povos indígenas do Alto Rio Negro, no Amazonas, dentre os quais os povos Tukano e Wanano fazem parte — etnias de Duhigó e Dhiani, respectivamente. O Hori é, além disso, também uma forma de percepção e uma expressão visual do que resultam os rituais de Khaapi, a base de Ayuasca, em que os indígenas se conectam com o mundo superior para dar vida aos desenhos sagrados que integram a história, o cotidiano e as cerimônias destes povos, bem como fazem parte da cultura visual que envolve as suas produções de cerâmicas, cestarias, bancos e pinturas corporais. O Hori é, de certo modo, uma forma de percepção do mundo em suas cores, linhas e vibrações — o espiritual que se materializa, o invisível que se torna visível.
Primeira exposição da Aura dedicada à arte indígena contemporânea, “Hori: Tukano e Wanano” é representativa não somente da ambição por construir um corpo artístico verdadeiramente plural de representações à galeria, como também da sua abertura para interlocuções e parcerias diversificadas. A natureza coletiva de todo o trabalho que envolveu a concepção da mostra – desde a curadoria e o interesse em expor mais de um artista até a escrita coletiva do texto de apresentação e o diálogo entre duas galerias – é também o espelho dessa predisposição a um vértice amplificador de convivência com a arte contemporânea que se estende às inclinações tanto da Aura quanto da Manaus Amazônia.
Aura Galeria
21 de outubro a 02 de dezembro – plano-paisagem – Bruno Weilemann Belo – O artista Bruno Weilemann Belo (1983, Rio de Janeiro/RJ) inaugura no sábado, 21 de outubro, a individual “plano-paisagem” na Aura. Com mais de uma dezena de obras, é apresentado um conjunto de pinturas e pinturas-objeto do artista produzida entre 2020 e 2023. A exposição tem curadoria de Gabriel San Martin, com assistência de Amanda D’Onofrio.
Conforme o título sugere, “plano-paisagem” esquadrinha problemas que envolvem, sobretudo, processos de construção de imagens e as relações entre pintura e plano, paisagem e abstração. Explorando paralelos com a história da pintura e recursos de fragmentação associados a técnicas tradicionais de construção compositiva, o artista desdobra certa paisagem estruturada em uma lógica de diorama aversa ao tableau pictórico. Na medida, então, que se deparam com paisagens sobre paisagens ou objetos sobre telas, esses trabalhos colidem em um flerte entre camadas que levam os suportes a se transformarem também em elementos expressivos. A falsa neutralidade da tela enquanto suporte é corroída pelas sobreposições renitentes de um plano sobre o outro e desmentem a possibilidade de um esgotamento semiológico.
Progressivamente diluídas em suas próprias mentiras, as paisagens liquefeitas do artista se descobrem na abstração e seus artefatos experimentam um desencontro com a perenidade do objeto. Significados concretos passam a desembocar em sentidos possíveis e elementos funcionais começam a perguntar sobre a possibilidade de uma vida plástica. Mas olham ainda para si mesmas e interrogam as relações edificadoras das mais óbvias de suas construções e percepções.
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo – MAC USP
07 de outubro a 10 de março de 2024 – Biógrafo – Daniel Senise – Daniel Senise é reconhecido sobretudo como pintor. Interessado na materialidade do mundo, manufatura suas próprias “tintas”, produzidas não com pigmentos, mas com resíduos que se acumulam em locais abandonados repletos de vivências e memórias soterradas pelo tempo. Tais resíduos são coletados por meio de um processo moroso de decalque, cujos resultados são frutos de certo acaso. O atelier do artista torna-se, assim, um repositório de matéria coletada que abriga o gérmen de renovadas paisagens.
Esta exposição reúne, dentre a vasta produção do artista, obras que partem dos lugares que ele habita e que lhe são caros: a casa, o atelier e o museu. A casa surge como lugar de memórias pessoais, o atelier abriga o trabalho minucioso de transferir a matéria coletada para a superfície das telas, enquanto o museu, situado no limite entre pintura e fotografia, exerce seu poder de reenquadrar a arte e sobrepor camadas de múltiplos significados. Dentre os museus e espaços associados à arte, Sem título, Bienal de São Paulo apresenta o icônico vão do edifício da Bienal como dobra arquitetônica. Avistado através do alinhamento de pilares circulares, o espaço regrado transmuta-se em espaço miragem.
Os lugares aqui apresentados não são dóceis, ágeis ou rapidamente decifráveis. Alinhados ao processo de criação do artista, exigem do observador tempo e disposição de olhar. Temas recorrentes na pintura e na história da arte, por exemplo, são tratados por meio de uma espécie de lente que altera elementos habitualmente presentes no mundo. Ela que não está evidencia esse modo particular de observação. Ao revisitar um afresco de Giotto, pintor italiano do início do Renascimento, Senise registra e destaca uma falha, marca da ausência de pigmento no corpo da obra, sublinhando o que lá não está.
Na variedade das obras configura-se um vasto território comum de presenças ausentes. O conjunto, tomado como um itinerário biográfico, nos remete ao título de uma série que permeia toda a exposição.
A mostra termina no corpo-matéria dos tijolos que são simultaneamente paisagem e revestimento, arquitetura e obra. Matéria transmutada. Memórias que mobilizam tempo e espaço transfigurados num exímio exercício tátil de olhar.