Último mês do ano e ainda dá tempo de visitar várias exposições incríveis que estão acontecendo pela cidade de São Paulo. Montamos um roteiro com dez indicações de exposições em galerias de arte que vão fechar o seu ano de maneira inspiradora!
Verve Galeria
25 de novembro a 10 de fevereiro – Ovo Cósmico – Felippe Moraes – Na mostra, o artista apresenta 16 obras inéditas, todas elas luminosas. Pela primeira vez, a sala expositiva será escurecida, a fim de proporcionar ao visitante uma experiência de “sentir-se flutuando no espaço para contemplar a infinitude e os ciclos dos corpos celestes”, como define o artista. Entre néons, instalações com espelhos e backlights com fotografias animadas, Moraes desdobra sua envolvente pesquisa sobre a música das esferas, alquimia e a ordem do cosmos em intrigantes propostas visuais e sensoriais.
Por meio de obras que vão da ciência ao ocultismo, o artista tensiona o limite entre as disciplinas do conhecimento para proporcionar uma situação imersiva e contemplativa. Na instalação Solaris Discotecum (2023), é criado um modelo do universo, com um grandioso globo espelhado ao centro fazendo as vezes do sol, girando lentamente em meio às 12 constelações do zodíaco. Também pela primeira vez, o artista utiliza Argônio na execução de suas obras luminosas, um gás nobre produzido no centro de estrelas massivas da galáxia. A representação gráfica das constelações é feita assim a partir do próprio material que emana das estrelas.
No backlight Evento Celestial (2020-2023) o artista se utiliza de uma inovadora técnica de impressão, que confere movimento às imagens. Nela, é mostrada uma cena de frente ao sol que lança um feixe de luz em direção ao observador. A ação se repete todas as vezes que se passa diante da obra. Ali são borradas as fronteiras entre fotografia e cinema, luz natural e artificial, luminosidade gráfica e emitida. Em OROBORO (2023), Moraes transforma o palíndromo título da obra em um poema ilusionista. A palavra se refere ao símbolo alquímico da cobra que morde a própria cauda. O termo é escrito em néon e sua imagem é projetada sobre um espelho, transformando-a num círculo infinito que permite ler a palavra da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, típico exemplo das curiosas técnicas de encantamento ótico e conceitual proporcionadas pelas experimentações plásticas do artista.
Central Galeria
07 de novembro a 24 de fevereiro – Hoje acordei linda – Ana Júlia Vilela e Roxinha – O título faz referência a uma das obras de Roxinha e expõem a forma dual de se encarar a contemporaneidade: ora de forma otimista, ora pessimista. Como observado por Paula Borghi, baseando-se na anedota sobre “O Dia da Boa Notícia” do portal iG (contada recentemente no episódio 42 do podcast Rádio Novelo Apresenta), “sempre há de haver boas e más notícias. […] Em um dia, por exemplo, acorda-se linda; no outro, indaga-se se todos os homens odeiam as mulheres”. As pinturas de Ana Júlia e Roxinha, com uma variedade de tons pastéis, exploram as nuances de suas realidades cotidianas.
De gerações diferentes, as artistas compartilham, muitas vezes, formas semelhantes de encarar o mundo. Ana Júlia nasceu logo após a popularização da internet doméstica, o que a torna intimamente familiarizada ao consumo e produção de texto e imagem conforme a linguagem de deboche das redes sociais. Em contrapartida, Dona Roxinha vem de uma época e sociabilidade muito distintas, quando “os memes eram feitos analogicamente, tal como nas frases de caminhão”, como coloca Borghi. A exposição Hoje acordei linda apresenta pinturas sobre tela e madeira com discursos paralelos, muitas vezes em tom irônico, que abordam temas diários e triviais, permeados por questões relacionadas ao gênero feminino e aos discursos feministas.
Millan 11 de novembro a 16 de dezembro – O último dia do século – Maya Weishof – A pintora Maya Weishof (1993, Curitiba, PR, Brasil) inaugura O último dia do século, individual que sucede mostras da artista em Paris, Londres e Coreia do Sul. Com texto crítico assinado pelo curador Renato Menezes, a exposição estreia na Millan em 11 de novembro, sábado, e marca o fim do programa de 2023 na galeria. Inéditas, as obras que compõem a exposição mostram os desdobramentos mais recentes da pesquisa de Weishof, que mergulha profundamente no fazer da pintura. São trabalhos que mesclam diferentes técnicas e acabamentos para criar cenas limítrofes entre noite e dia, corpo e paisagem, o sonho e a vigília, prazer e pavor, simultaneamente apocalípticas e catárticas. Mais do que explorar os contrastes entre esses elementos, Weishof investiga como eles se constituem mutuamente e como habitam a psique humana. Nesse sentido, o título da exposição — O último dia do século —, referência a uma frase de Jean Delumeau no livro A história do medo no Ocidente, fala sobre o os efeitos apavorantes e sedutores do desconhecido. No texto crítico que apresenta a exposição, Renato Menezes afirma que “a origem da pintura de Maya Weishof é a cor, e é à cor que ela se destina. Não há figura sua que não seja feita de cor, assim como não há espaço vazio que não seja preenchido por ondas multicoloridas. É pela cor que se destrava a espiral de seu olhar: não há limites, não existe pureza, e linhas retas são rigorosamente profanadas, com a segurança de quem confia na energia de seus pincéis”. A exposição na Millan marca também uma incursão inédita da artista na criação de vitrais, que adornam as janelas da galeria. A artista pintou sobre os vidros as mesmas criaturas e formas que habitam suas pinturas. O suporte inusitado na arte contemporânea se relaciona às igrejas barrocas e do renascimento que servem como inspiração para a artista e já foram suporte para criações de Marc Chagall, que também a inspiram.
Sé Galeria
11 de novembro a 16 de dezembro – Chocolate Imaginário – Maria Monteiro – A exposição Chocolate Imaginário de Maria Montero, fundadora da Sé, encerra o programa anual da galeria em 2023. A partir da experiência pessoal da perda do pai, o fotógrafo Fausto Ivan, para o câncer durante a pandemia, Montero propõe uma investigação poética sobre a finitude da vida, celebrando a existência e a herança emocional deixada pela morte. A mostra utiliza objetos, instalações, desenhos, fotografias e instruções para performances para explorar a elaboração do luto com leveza e alegria de viver. O título da exposição refere-se às últimas palavras do pai, que delirante sob morfina, afirmou estar comendo chocolate. Montero, imersa na pesquisa sobre perda e luto, utiliza a palavra escrita e objetos corriqueiros em suas obras, desafiando as convenções do luto com elementos multicoloridos e contrastes visuais. As obras inéditas exploram a relação entre dança e morte, a expressão de empatia através de joias e a dramaturgia associada a ritos fúnebres. A instalação Se estiver vivo, dance examina a relação entre dança e morte na sociedade de consumo contemporânea, enquanto a peça Meus sentimentos explora os protocolos linguísticos do luto transformados em acessórios de elogio à subjetividade. O trabalho Monumento ao tubinho de filme homenageia o pai da artista, relacionando-se com sua profissão de fotógrafo. A instalação Mente é um comentário sobre práticas budistas, convidando os espectadores a olhar diretamente para suas emoções e pensamentos. A exposição, predominantemente composta por obras inéditas, oferece uma reflexão profunda sobre a impermanência, a perda e as heranças afetivas. Com elementos visuais e conceituais, Montero proporciona uma experiência contemplativa que convida o público a praticar compaixão, alegria, presença e outras qualidades do coração humano. O texto curatorial é assinado por Gustavo Gitti.
Galeria Raquel Arnaud
11 de novembro a 09 de fevereiro – O Dorso do Tigre – João Trevisan – Sob a curadoria de Mateus Nunes, a exposição é um convite para um mergulho em momentos de reflexão e de busca por tranquilidade vivenciadas e propostas pelo artista brasiliense, em meio ao turbilhão do mundo contemporâneo, por meio de obras que exploram espaço, luminosidade e colorimetria.A mostra reúne aproximadamente 40 produções pictóricas inéditas, divididas em quatro grupos, distribuídos pelos dois pisos da galeria: Intervalos, Intersecções, Paisagens e Monocromos. Uma oportunidade de apreciar a sensibilidade e a profundidade de Trevisan, que faz parte de uma nova geração de artistas minimalistas, com influências do abstracionismo geométrico. O Dorso do Tigre não é apenas um título intrigante, mas também uma referência à obra literária do paraense Benedito Nunes.
Segundo o curador, todos nós estamos “sobre o dorso do tigre”, um animal com base e aparência sólidas, mas com a área dorsal ondulante, uma metáfora do constante movimento e da transformação da vida. Para a produção de cada tela de João, há um processo que dura cerca de três meses, com sucessivas camadas de tinta acrescentadas na superfície até obter a textura desejada, inaugurando novas noções de profundidade e velatura cromática, em que as cores ora se revelam, ora se escondem. João Trevisan convida os visitantes a explorarem suas obras, caminhando ao redor delas para apreciar plenamente a riqueza das cores e da luz. Sua pesquisa sobre luminosidade surgiu do pensamento sobre como a luz é uma matéria em si mesma, como os volumes da pintura podem se tornar uma matéria que se relaciona com a luz, e como essa luz alcança as pessoas. Essa exploração é enriquecida por sua experiência com escultura, sombra, sol e a relação entre a chuva e o tempo. Além disso, realiza um estudo meticuloso de colorimetria, explorando o uso do branco e do preto para criar efeitos visuais impressionantes, que desafiam a percepção dos espectadores.
Simões de Assis
11 de novembro a 23 de dezembro – Afrominimalismo – Emanoel Araújo – Nesta exposição em que os relevos brancos de Emanoel Araujo são o foco, reconhecemos um nexo da sua visão africanista e universalista. Em “Emanoel Araujo: Afrominimalista Brasileiro”, propus um cânone do formalismo africano como a principal estética que norteou seu trabalho. Aqui, gostaria de revisitar brevemente essa proposição e atualizá-la. Consideremos também o neoconcretismo brasileiro, o minimalismo, o relevo como meio clássico antigo e o cânone têxtil africano. Se essa mistura parece anômala, consideremos o fato de que, desde o início de sua carreira, Araujo teve um temperamento enciclopédico e considerável interesse pelos relevos greco-romanos, pelo barroco e rococó brasileiros e pela história da arte em geral². Pertinente à nossa discussão aqui é o seu interesse pelos relevos clássicos e tecidos africanos, que têm muito em comum com os cânones gerais da escultura clássica africana. Estamos habituados a ver antigos relevos gregos e romanos e os seus estilos reavivados em mármore branco, esquecendo-nos de que o tempo corroeu a policromia original. A este respeito, o clima seco foi mais favorável aos relevos egípcios. Os reavivamentos neoclássicos – nos quais o imaculado mármore branco era o suporte – afetam ainda mais nossas percepções. Nos relevos coloridos e nas esculturas de Emanoel, esse drama é representado em tons primários que se refratam em seus próprios tons e matizes. A ausência de cor nos relevos brancos de Araujo resulta nas sutilezas e na dramaticidade da luz que performa uma escala de cinza – indo do branco, passando pelos cinzas intermediários, até voltar ao branco. Ao visualizar suas peças brancas, os relevos coloridos se tornam uma “película” onipresente em nossa experiência. A nossa experiência é “colorida” da mesma maneira quando nossa imaginação preenche a policromia perdida dos relevos greco-romanos.
Galeria Lume
30 de novembro a 24 de janeiro – Renata Egreja: uma crônica mole – Texto de Mariana Leme: Na entrada da galeria, uma pintura de fundo esverdeado recebe os visitantes. Ela é estruturada por uma forma oval, algo vacilante, da qual se desprendem dois “sacos” marrons, vazados. Na parte superior, alguns elementos em forma de meia-lua, mais opacos, parecem lhe dar sustentação. Mas as tintas escorrem, criando uma atmosfera aquática, em que as formas negociam sua coexistência. Ao seu lado, duas pequenas pinturas lembram sementes ou bagos: seres-bolsas à espera de germinar novas formas de vida. Uma das “sementes”, dentada e brilhante, parece também flutuar numa atmosfera líquida, sem que tenha um destino predeterminado. A segunda, uma forma composta por três gotas marrons, talvez esteja na iminência de se desprender do ser-matriz para transformar-se em outra coisa. Nas obras de Renata Egreja não existe síntese, ou seja, uma resolução inequívoca dos elementos que as compõem; eles estão sempre em negociação, em movimento. Não numa harmonia orquestrada (por alguém que se sobressai), mas como uma abundância de seres que se combinam, se repelem, se misturam e se transformam, às vezes absorvendo uns aos outros. Nos termos da escritora Ursula K. Le Guin, as pinturas de Egreja já não contam a estória de um Herói, mas da própria vida que acontece, em movimento incessante; mole como a “bolsa da ficção”: “todos nós já ouvimos tudo sobre todos os paus e lanças e espadas, sobre as coisas para esmagar e espetar e bater, as longas coisas duras, mas ainda não ouvimos nada sobre a coisa em que se põem coisas dentro, sobre o recipiente para a coisa recebida. Essa é uma estória nova. […] E, no entanto, antiga.”
25 de novembro a 27 de janeiro – Nascituras – Rosana Paulino – Texto de Igor Simões:
Nascituras: Que ou aquela que há de nascer. Talvez possa causar estranheza, o fato da exposição de uma artista tão incontornável como Rosana Paulino, ganhar o título de Nascituras. Afinal, a que pode se referir essa palavra, diante de uma das mais sólidas e contundentes carreiras da arte que nomeamos brasileira, de fato? Uma carreira que completa 30 anos baseados em labuta diária nos domínios do seu ofício. Uma carreira que é presença constante em exposições definidoras do campo da arte contemporânea, com as últimas edições das bienais de Veneza e São Paulo. São muitas as nascituras, os nascedouros, os nascimentos, por aqui. Em uma das minhas visitas (são várias ao longo dos anos) ao ateliê de Rosana, pude captar um desses instantes que deixa ver um muito do pensamento artístico que sustenta essa produção. Entro e me deparo com uma enorme mesa. Sobre elas, várias folhas com os estudos que viriam a se tornar a série “Nascituras”, aqui exposta. Rosana me diz que postas assim, lado a lado, consegue ver cada um dos desenhos, como se estivesse com um grande caderno diante de si. Um desses instantes de contínuo estado de vir a ser, que se impõem nos espaços de trabalhos de artistas com compromisso firmado com suas investigações formais. Naquele momento, um pouco da característica de boa parte de sua obra, se coloca em pé: o desenho, longamente desenvolvido, que invade as milhares de páginas de diferentes épocas, que fazem parte do arquivo de Rosana Paulino. Esse desenho, de língua própria, onde a linha, elemento expressivo constante no arsenal de Paulino, aparece por entre áreas de cores aguadas. Nesses trabalhos a própria definição de desenho se expande para buscar vizinhança com o que, a princípio, flerta com noções constantemente associadas à pintura. Mas, na escuta do que diz a artista, ainda estamos diante de um desenho. Naquelas folhas, em uma segunda visita, já as encontro. Essas mulheres entidades, senhora dos tempos e das naturezas. Um detalhe importante pede a atenção de quem agora as vê expostas. Preste atenção: elas não são sequências da mesma personagem. Não se trata de um tipo geral que se repete. Chegue mais perto! Veja como cada uma delas possui um elã distinto. Como são diferentes mulheres pertencentes ao mesmo tempo e mundo. Cada uma das dez parece se apresentar diante de nós, sem nunca abrir completamente mão de estar consigo, em seu mundo. Uma delas, nos comove com seus olhos fechados, ramificações vermelhas nos braços e cabeça, e linhas (a linha de Rosana) que descem de sua boca. Essa figura que está em pleno instante de surgimento suave e comovente, nasce de uma bromélia. Não qualquer bromélia, mas aquela encontrada no encontro da artista com as plantas do Parque do Jaraguá, reserva próxima ao ateliê. Ainda outra, dessas mulheres em estado de nascituras, surge em uma das minhas anotações como a “dama das plantas”. Essa mulher cuja mãos se encontram postas abaixo dos seios parece se posicionar como resultado de uma serenidade interior que se expande pelos olhos com ramificações que vemos desde trabalhos da década de 90. Percebam então como esse elemento formal renasce com novos sentidos na série apresentada aqui.
Galeria Marilia Razuk
23 de novembro a 02 de fevereiro – Um teto todo seu – coletiva – Um teto todo seu. Ou seria um teto todo nosso? A exposição coletiva de artistas mulheres traz como título, um clássico da literatura feminista, escrito em 1928, “Um Teto Todo Seu” de Virginia Woolf. A autora produziu tal ensaio sob o nome fictício de Mary, após realizar duas palestras em universidades britânicas femininas no início do século XX, justamente para incentivar e preparar as próximas gerações de criadoras, criativas, sejam elas escritoras, artistas e intelectuais. 95 anos se passaram, e algumas questões levantadas no ensaio literário escrito por Woolf, sobre o processo criativo das mulheres, seguem atuais. Já, outros pontos nem tanto, e foram, felizmente, superados com o tempo. Mas de toda forma, o foco é na liberdade intelectual que a autora propõe. E com tal fomento à liberdade criativa, possamos explorar, livremente, as diversas poéticas e linguagens das artistas da coletiva. Como a própria Virginia Woolf, ou melhor, Mary, diz, “Seja verdadeira, diriam, e o resultado tende a ser incrivelmente interessante.” Em Um Teto Todo Seu na Galeria Marilia Razuk observamos as aproximações, os diálogos e a pluralidade nos variados processos criativos e consequentemente, nas distintas expressões artísticas incrivelmente interessantes de Ana Calzavara, Ana Dias Batista, Ana Holck, Carolina Martinez, Debora Bolzsoni, Esther Bonder, Johanna Calle, Lucia Mindlin Loeb, Mabe Bethônico, Maria Andrade, Maria Laet, Mariana Serri, Raquel Garbelotti e Renata Tassinari.
Casa Triângulo
11 de novembro a 22 de dezembro – Fora de Registro – Albano Afonso – Texto de Eder Chiodetto: A inédita série fotográfica de Albano Afonso, apresentada em Fora de Registro, é criada por meio de estratégias técnicas e poéticas que findam por criar uma espécie de abalo sísmico na ilusão de estarmos vendo a coisa fotografada e não simplesmente uma imagem impressa numa superfície. A ideia da fotografia como uma janela que magicamente nos desloca do nosso tempo-espaço é refutada nessa proposta metalinguística que o artista propõe.
Sobrepondo imagens distintas feitas numa sequência, o artista as rearranja de modo que a representação do referente fique “fora de registro”, termo utilizado no jargão das gráficas, quando as lâminas das matrizes cromáticas que formam a imagem não estão alinhadas e geram um efeito borrado. Outras estratégias são utilizadas para criar diferentes perturbações nessas fotografias, que findam por desacomodá-las do intuito de mimetizar o que a câmera teria registrado passivamente.
Ao submeter as imagens a esse processo, Albano Afonso parece nos dizer, emulando René Magritte: – Isso não é um buquê de flores, é uma fotografia. Ao nos impedir o devaneio, a ilusão que a mimese fotográfica proporciona, o artista descarna o jogo especular do sistema de representação para nos deixar ali, diante dessas fotografias que propositalmente falham no seu projeto de serem uma miragem.