Setembro começou animado com SP-Arte Rotas Brasileiras, Bienal de São Paulo e ArtRio. Tudo isso, logo na primeira metade do mês!
Com tantos eventos importantes de arte acontecendo no eixo Rio-São Paulo, a cena fica movimentada e os museus e galerias acompanham esse buzz com muitas exposições, conversas, visitas guiadas, cursos e eventos incríveis. Então, se prepare para anotar as datas e não perder nada!
Aura Galeria
31 de agosto a 14 de outubro – Tijolo de Prata – Rommulo Vieira Conceição – Participante da 35ª Bienal de São Paulo — Coreografias do impossível e de Dos Brasis: Arte e pensamento negro, Sesc Belenzinho, o artista ocupa um lugar de destaque na cena artística brasileira. Com mais de 20 anos de carreira, Conceição trabalha com variados suportes e tem obras integrantes de diversas coleções públicas importantes, como as da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Inhotim, do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP) e do Centro Cultural de São Paulo (CCSP). Com curadoria de Roberto Conduru, a exposição reúne trabalhos históricos e inéditos do artista que atravessam temas como a problematização da ideia de uma estética da gambiarra na história da arte brasileira e investigações em torno da tensão entre lugar e espaço na arquitetura moderna.
Cassia Bomeny Galeria
31 de agosto a 17 de outubro – La Sangre Nunca Muere – Herbert De Paz – Artista de El Salvador radicado há dez anos no Brasil traz uma exposição, com curadoria de Keyna Eleison, apresentandi como eixo conceitual as memórias ancestrais do artista e seu repertório imagético. Através de uma poética que dialoga diretamente com a História, abordando e questionando as narrativas hegemônicas sobre a colonização nas Américas, a obra de Herbert De Paz divide-se entre pinturas e colagens criadas a partir de fotos de arquivo e do seu próprio repertório imagético. A consolidação de seu trabalho se reflete também na integração de suas obras às coleções do Instituto Inhotim, do Museu de Arte do Rio de Janeiro e do Institute of Contemporary Art, em Miami. Bem como na nomeação ao prêmio Artista Emergente, pela Cisneros Fontanals Art Foundation’s (CIFO), em Miami; e no convite para realizar uma residência artística na organização salvadorenha Yes Contemporary Art. Em sua terceira exposição individual, o artista retoma a aproximação com Keyna Eleison, depois da exposição Escrito no Corpo, também curada por ela, na Carpintaria (2020). Desta vez, o artista ocupa a Galeria Cassia Bomeny com peças concebidas especialmente para a mostra, composta majoritariamente por pinturas. A tela que dá título à exposição carrega o nome de uma canção ancestral de El Salvador gravada pelo grupo indígena Talticpac, que retrata uma comunidade formada por uma mulher indígena, um homem negro e seu filho.
Galeria Luciana Brito
02 de setembro a 23 de setembro – As Circunstâncias – Héctor Zamora – Composta por dois trabalhos performáticos e escultóricos que convidam o público a refletir sobre questões relacionadas à iconografia de gênero, um tema relevante nos dias atuais. O primeiro trabalho, intitulado ‘Platônicos’, consiste na transformação de uma escultura de pedra que representa a iconografia clássica masculina em uma série de sólidos platônicos, como o tetraedro, cubo, octaedro, dodecaedro e icosaedro. Esses são elementos fundamentais da geometria espacial e têm associações com os elementos naturais, como fogo, terra, ar, água e algumas constelações. A ação proposta por Zamora pode ser interpretada como um retorno às origens ou uma reconexão do homem com sua própria natureza. No entanto, a escultura original se torna instável após a primeira modificação, tornando quase impossível esculpi-la com a precisão necessária para criar as formas platônicas. Isso resulta em uma escultura desforme e catastrófica, destacando um descompasso entre a teoria idealizada e o resultado realista da ação. O segundo trabalho, intitulado Movimentos Emissores da Existência, envolve um grupo de mulheres caminhando sobre vasos de barro fresco. Essa performance, realizada em várias edições anteriores, incluindo Cidade do México, Otazu (Espanha) e Dhaka (Bangladesh), subverte a imagem icônica da mulher carregando um jarro de cerâmica sobre a cabeça, um estereótipo associado à utilidade e submissão. Ao pisarem nos vasos, as mulheres transformam esses objetos utilitários em elementos escultóricos evocativos de uma forma uterina ou vaginal, simbolizando a capacidade de transformação do cotidiano feminino. O título da exposição, assim como de uma das obras, foi inspirado no livro Atlas do Corpo e da Imaginação, de Gonçalo M. Tavares. Tavares fala sobre a “musculatura existencial” que impulsiona nossos movimentos e interações com o mundo, destacando a capacidade de criar “movimentos emissores da existência”, que têm o potencial de transformar a realidade ao nosso redor. Zamora escolheu esse termo para seu trabalho, convidando os espectadores a refletir sobre diferentes maneiras de enfrentar os desafios do presente Antropocênico, questionando a validade de projetos civilizatórios baseados na força e na violência em comparação com abordagens mais sutis e transformadoras.
Simões de Assis
02 de setembro a 21 de outubro – The Speed of Grace – coletiva – Prestes a completar 40 anos, a galeria inaugura um novo espaço no Jardins com a coletiva assinada pelo curador e crítico cultural ganês-americano Larry Ossei-Mensah. A mostra reúne colagens, pinturas, esculturas, técnica mista – obras em sua maioria inéditas – dos artistas Amoako Boafo (Gana), Anthony Akinbola (EUA), April Bey (Bahamas), Bony Ramirez (República Dominicana), Deborah Roberts (EUA), Derrick Adams (EUA), Emanoel Araújo (Brasil), Hank Willis Thomas (EUA), Larissa de Souza (Brasil), Ludovic Nkoth (Camarões),
Mestre Didi (Brasil), Serge Attukwei Clottey (Gana), Tunji Adeniyi-Jones (Inglaterra), Zandile Tshabalala (África do Sul) e Zéh Palito (Brasil). Em sua essência, The Speed of Grace celebra a audácia dos artistas participantes que utilizam destemidamente suas práticas artísticas como plataformas para desafiar as estruturas de poder existentes, questionar as normas sociais e capacitar as comunidades negras e pardas. A exposição serve não apenas como um discurso intercultural, mas também como um diálogo intergeracional, destacando uma variedade de artistas, desde mestres de seu ofício até artistas emergentes na vanguarda. Ossei-Mensah se esforça para criar uma exposição que pareça um ensopado curatorial, convidando o espectador a refletir sobre como esses artistas que representam comunidades variadas sempre inovaram e estiveram na vanguarda da expansão de nossa compreensão da arte contemporânea. Com o novo espaço aberto em São Paulo, a galeria celebra a consolidação de sua atuação no estado e segue um planejamento de ampliação de suas atividades.
C.A.M.A.
02 de setembro a 14 de outubro – Doispontozero – coletiva – O C.A.M.A. [Colaboração entre Agentes do Mercado de Arte], retoma seu calendário expositivo em novo endereço. No dia 02 de setembro a coletiva Doispontozero inaugura o galpão de 200m² na Barra Funda, novo polo cultural da cidade de São Paulo. Criado em 2019, com intuito de aprofundar vínculos e expandir os limites da colaboração entre os mais diversos agentes deste mercado, o projeto soma esforços de 4 galerias de diferentes cidades, Casanova (São Paulo), Cavalo (Rio de Janeiro), Kubikgallery (Porto – PT) e 55SP (São Paulo).
Desde o começo de suas atividades, primeiramente com experiências online, fruto do esforço de reinvenção em tempos de isolamento e depois, presencialmente, na Vila Modernista Flávio de Carvalho, no Jardim Paulista, o C.A.M.A. vem desenvolvendo uma extensa programação de artistas convidados e parcerias com grupos independentes, pesquisadores, curadores e galerias nacionais e internacionais. Juntando-se ao circuito que vem se fortalecendo nos arredores da Barra Funda, o C.A.M.A. chega à localidade como um terreno para relações horizontais no circuito cultural. Agregando forças e reinventando maneiras de produzir, divulgar e diversificar as maneiras de consumir arte. A exposição coletiva Doispontozero, que marca essa nova fase, conta com nove artistas que apresentam trabalhos já conhecidos do grande público e obras inéditas, feitas especialmente para a ocasião. Desde pinturas, passando por esculturas e instalações, no espírito de juntar as mais diversas expressões artísticas. A Casanova convida os artistas Beto Shwafaty (1977, São Paulo, SP), Lina Kim (1965, São Paulo, SP) e Massuelen Cristina (1992, Sabará, MG), a galeria Cavalo traz para o espaço Ana Clara Tito (1993, Bom Jardim, RJ), Douglas de Souza (1984, Blumenau, SC) e Tainan Cabral (1990, Rio de Janeiro, RJ) e a Kubikgallery apresenta André Barion (1996, São Paulo, SP), Dan Coopey (1981, Stroud, UK) e Renata De Bonis (1984, São Paulo, SP). Paralelamente, a 55SP apresenta, como parte do projeto Ressonância, uma seleção de obras de artistas que trabalham na interseção do som, música e arte.
Galatea
02 de setembro a 14 de outubro – Carolina Cordeiro: O tempo é – A individual reúne trabalhos inéditos da artista, de caráter instalativo. Com textos de Paulo Nazareth e Fernanda Morse, a exposição se estrutura em três séries pensadas em conjunto para a ocasião: O tempo é; Sinais iniciais e Retirar tudo o que disse, que conjugam materiais e aspectos recorrentes na prática da artista mineira, como o zinco e o papel, o branco, as superfícies refletoras e os jogos de luz. Experimentando diferentes níveis de intervenção no espaço — obras suspensas no teto, presas à parede, dispersas ao chão —, Cordeiro aborda grandes temas — como o tempo e a questão da linguagem — sem preciosismos. Se, como diz Giorgio Agamben, contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpelá-lo, Cordeiro – com o seu espelho prateado que nos vê, mas não nos mostra -, trama no escuro seus feixes luminosos. Sobre os materiais utilizados, a artista plástica afirma que o zinco, particularmente, tem uma conotação afetiva: “Faz parte da minha produção, como algo que me atravessa pela poesia e pela canção popular. É um elemento muito poético, que não entra na história oficial da arquitetura, mas está nas casas e nos barracos. Eu uso esse material pela forma que ele agrega e se torna construtivo”. A primeira vez que Carolina usou zinco em sua obra foi em Dizem que há um silêncio todo negro (2019-2020), instalação em que chapas perfuradas foram instaladas na claraboia da biblioteca do espaço de arte Auroras permitindo a passagem de luz pelos vãos e trazendo o imaginário da violência. Agora, as mesmas chapas são reutilizadas na obra O tempo é, que ocupa a primeira sala da exposição da Galatea. A poesia brasileira também é uma influência para a artista, mostrando-se principalmente através dos títulos dos trabalhos. América do Sal (2021) e As impurezas do branco (2019), por exemplo, são obras anteriores cujos títulos remetem a dois poetas brasileiros consagrados, respectivamente, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.
Edifício Vera
02 de setembro a 21 de outubro – NENHUMLUGARAGORA – Com obras de 138 artistas nacionais e internacionais, a mostra é destaque na programação cultural da cidade, que fica em cartaz até o dia 21 de outubro. A exposição problematiza e faz uma reflexão sobre a vida pós-pandêmica, onde os mercados financeiros substituíram a concretude e a utilidade da produção pela abstração financista, imprimindo no mundo uma configuração mental “plugada”, porém desconectada do real. Dividida em 10 eixos temáticos centrais – política, identidade, memória, globalização, sexualidade, ecologia, cultura de massa, urbe, tecnologia e linguagem – as obras colocam a arte em um patamar possível de resistência das falências contemporâneas. NENHUMLUGARAGORA busca evidenciar a arte contemporânea como expressão viva da diversidade cultural brasileira e internacional. Num só lugar, estarão reunidos artistas diversos para narrar poeticamente temas de uma pluralidade de lentes que evidenciam a riqueza da produção da arte. Essa primeira edição, idealizada pelo artista César Meneghetti e organizada de forma participativa, voluntária e espontânea por artistas como Sérgio Adriano H, Helena Marc, Rafaela Jemmene, Carolina Mikoszewski, Cynthia Loeb, Luiz Martins e Jê Américo. Além disso, conta com importantes adesões e parcerias como Alex Flemming, Denise Adams, Hélio Fervenza, Olinda Tupinambá, Rejane Cantoni, Gabriel Borba Filho, Ding Musa, Márcia Beatriz Granero, Lucila Meirelles, Lucas Bambozzi, Raphael Escobar, Luiz 83, Katia Salvany, Helô Sanvoy, Renata Padovan, André Parente, Bijari, André Komatsu, Mauro Veracidade, Fernando Velázquez, Almir Almas, o coletivo Tupinãodá, Daniel Melim, Edith Derdyk, Simone Michelin. Ainda integram o grupo, artistas da Itália, Holanda, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Taiwan, Bélgica e Japão.
Galeria Athena
12 de setembro a 10 de novembro – O que há de música em você – Obras de Hélio Oiticica – Em 1986, foi realizada a primeira exposição póstuma de Hélio Oiticica (1937 – 1980), organizada pelo Projeto HO, na época coordenado por Lygia Pape, Luciano Figueiredo e Wally Salomão. Para essa mostra – que se chamava O q faço é música e foi realizada na Galeria de Arte São Paulo -, o projeto produziu edições únicas das icônicas obras Relevo Espacial (1959/1986) e Parangolé P4 Capa 1 (1964/1986), que arrecadou fundos para a organização, catalogação e conservação das obras e documentos deixados pelo artista.
Desde então, essas obras permaneceram em uma coleção particular e, agora, voltam a público, após 37 anos, como ponto de partida para O que há de música em você. A exposição será inaugurada no dia 12 de setembro, na Galeria Athena, no Rio de Janeiro, com curadoria de Fernanda Lopes. Icônicas para o desenvolvimento do pensamento de Oiticica, as duas obras são de grande importância – o Parangolé, inclusive, foi vestido por Caetano Veloso na época de sua criação. Partindo delas, e da célebre frase de Hélio Oiticica: “O q faço é música”, a exposição apresentará um diálogo com fotografias, vídeos, objetos e performances de outros 20 artistas, entre modernos e contemporâneos, como Alexander Calder, Aluísio Carvão, Andro de Silva, Atelier Sanitário, Ayla Tavares, Celeida Tostes, Ernesto Neto, Felipe Abdala, Felippe Moraes, Flavio de Carvalho, Frederico Filippi, Gustavo Prado, Hélio Oiticica, Hugo Houayek, Leda Catunda, Manuel Messias, Marcelo Cidade, Rafael Alonso, Raquel Versieux, Sonia Andrade, Tunga e Vanderlei Lopes. Os diálogos acontecem de diversas formas, seja por um aspecto mais literal da ideia de música, de movimento, seja pela questão da cor e por discussões levantadas por Oiticica naquele momento que continuam atuais. “A ideia geral é tentar pensar, como pano de fundo, como o Hélio traz questões da passagem para o contemporâneo que continuam sendo debatidas e que estão vivas até hoje de diferentes maneiras”, afirma a curadora Fernanda Lopes. A relação de Hélio Oiticica com o samba e com a Estação Primeira de Mangueira é bastante conhecida, mas a curadora também quer ampliar essa questão. “Quando Hélio fala de música, ele não está se referindo só ao samba, mas também ao rock, que é o que ele vai encontrar quando chega em Nova York. Para ele, são ideias de música libertárias, pois dança-se sozinho, sem coreografia, são apostas no improviso, no delírio. Acho que a partir disso é possível fazer um paralelo com a discussão de arte, repensando seu lugar, seus limites, suas definições e repensando também a própria ideia e o papel da arte”, afirma a curadora.
Galeria Luisa Strina
31 de agosto a 21 de outubro – A VIAGEM D_S QUE NÃO FORAM – Laura Lima – Os trabalhos são desdobramentos da obra Balé Literal, uma grande instalação em movimento apresentada pela primeira vez na encruzilhada em frente à galeria A Gentil Carioca (2019), atualmente em cartaz no MACBA, em Barcelona. Em Balé Literal, Laura Lima criou um sistema de cabos móveis que servem de suporte para objetos, maquinários, pinturas e uma variedade de outros artefatos que dançam através do espaço em uma coreografia absurda. As esculturas suspensas apresentadas em A VIAGEM D_S QUE NÃO FORAM derivam de um desses “personagens”: um objeto, construído a partir de dois pratos de porcelana sobrepostos, que evoca a figura de um disco voador. Aqui, Laura Lima apresenta onze esculturas (ou esculto-criaturas, como a artista as apelidou) inéditas construídas com uma variedade de peças de metal e recipientes de vidro e cerâmica, penduradas do teto da galeria com molas metálicas. Assim como no Balé Literal, as obras desta exposição são concebidas pela artista como seres sencientes, criaturas extraterrestres dotadas de qualidades e características próprias que flutuam pelo espaço expositivo. O caráter teatral da mostra é reforçado ainda pelo texto-libretoescrito do curador Victor Gorgulho em colaboração com a artista. Funcionando como um complemento às obras de Laura Lima, o libreto acompanha o percurso dos espectadores pela exposição, animando os trabalhos por meio um roteiro do qual as peças exibidas são os protagonistas.
31 de agosto a 21 de outubro– Se não for pra chorar, eu nem saio de casa – Luisa Matsushita – A mostra reúne um conjunto de pinturas inéditas em diferentes formatos caracterizadas por um cromatismo singular que resulta dos inúmeros estudos em papel que precedem à realização de suas obras. A transposição das cores de seus estudos para a tela envolve, necessariamente um processo laborioso de tentativa e erro, durante o qual a artista chega a um equilíbrio entre transparência, tonalidade e vibração que implica na aplicação de dezenas de camadas de tinta a óleo para ser alcançado. Outro atributo marcante dessas pinturas é a presença de formas sintéticas, orgânicas ou ortogonais, que se estruturam em composições abstratas inspiradas por elementos banais do cotidiano. Guarda-roupa (2023), Todo mundo gosta de uma graminha (2023) ou Escada da Zezé (2023), para citar apenas alguns de seus títulos, evocam imagens ou narrativas de cunho subjetivo, embora suas pinturas permaneçam decididamente livres de interpretações unívocas. É justamente na capacidade de enxergar algo notável em acontecimentos banais e de transformá-los em imagens ao mesmo tempo pulsantes, elegantes, ambíguas e cheias de humor que reside a singularidade da obra de Luísa Matsushita. A exposição é acompanhada por um ensaio da escritora Duda Porto de Souza, amiga de longa data de Matsushita, que acompanha sua trajetória desde a primeira década dos anos 2000, quando a artista integrou a banda Cansei de Ser Sexy (CSS) até suas experiências mais recentes com a bioconstrução no estado de Santa Catarina durante a pandemia do COVID-19. Assim como os artistas da vanguarda do séc. XX que, estimulados pela filosofia da Bauhaus, atuavam em várias disciplinas, Duda Porto de Souza descreve Luisa Matsushita do seguinte modo: “Autodidata em múltiplas frentes, a experiência prática continua sendo a maneira mais vigorosa que encontrou para liberar sua vida emocional interior. Tudo que eu sei, aprendi fazendo. Fiz música assim, eu canto assim, construí uma casa e fiz móveis para o seu interior assim, consegui comer o que plantei. É assim que pinto, consigo descobrir formas de fazer, pois eu sou uma artista.” Após explorar estudos sobre bioconstrução, permacultura, agrofloresta e sementes crioulas, Luísa construiu sua própria casa de baixo impacto no meio ambiente. Ao longo dos anos, somou saberes à experiência prática, numa busca que culminou no léxico emocional e nos códigos impressos nas pinturas desta mostra, onde tudo está relacionado à morada e à continuidade da força criativa no mundo.”
Mendes Wood DM
02 de setembro a 11 de novembro – Linhas Tortas – coletiva – Uma exposição coletiva internacional que acontecerá em diversos locais. A mostra explorará um emaranhado de jornadas e o poder da narrativa, celebrando uma década de existência da galeria. Com curadoria de Diana Campbell, Linhas Tortas será exibida, simultaneamente, no espaço expositivo da Mendes Wood DM, em São Paulo, em espaços selecionados no bairro da Barra Funda, onde fica a galeria, e na Casa Iramaia, um local de exposições externo que é um marco arquitetônico da cidade, projetado pelo renomado arquiteto Gregori Warchavchik na década de 1950, reconhecido como o responsável pela primeira residência modernista no Brasil. Linhas Tortas é uma exposição ambiciosa que se expande por vários cantos da cidade, reunindo todos os artistas do programa da Mendes Wood DM e colocando-os ao lado de uma extraordinária seleção de artistas contemporâneos convidados e de trabalhos de figuras históricas. A exposição é inspirada no aforismo brasileiro: “Deus escreve certo por linhas tortas”. Segundo a curadora Diana Campbell: “A exposição segue trilhas (de pensamento e vida) complexas que se desdobram quando uma pessoa embarca nelas com intenção, mas sem uma finalidade em vista. Ela assume caminhos que não são guiados pela conveniência ou pela eficiência, não são otimizados pela oferta e demanda, e sim caminhos que evitam os muitos atalhos trilhados pelas forças capitalistas e/ou coloniais, que beneficiam poucos em detrimento de muitos. Ela questiona quem foram os escolhidos para terem o direito de escrever a história e propõe novas formas de (re)inscrever perspectivas profundas e sistemas de existência que foram deliberadamente obscurecidos”. A exposição congrega mais de 100 trabalhos de mais de 80 artistas contemporâneos, incluindo obras novas e recentes de renomados artistas brasileiros, tais como Antonio Obá, Castiel Vitorino Brasileiro, Lucas Arruda, Sonia Gomes e Rosana Paulino, e de artistas internacionais aclamados, tais como Laure Prouvost, Lawrence Abu Hamdan e Shilpa Gupta, que serão colocados ao lado de nomes que deixaram importantes contribuições históricas, como Anni Albers, Etel Adnan, Francesca Woodman e Lygia Pape — apenas para citar alguns. Linhas Tortas não adota o ditado do seu título ao pé da letra, em vez disso, a mostra recusa uma leitura linear do passado em favor daquilo que Campbell descreve como “a descoberta de uma rede contínua de linhas sinuosas que se juntam por meio das obras de artistas que marcam e anotam o rascunho aparentemente infinito da história”.
Galeria Nara Roesler – Rio de Janeiro
12 de setembro a 21de outubro – O rio (e o voo) de Amelia no Rio – A exposição destaca o trabalho da grande artista Amelia Toledo (1926, São Paulo – 2017, Cotia, São Paulo) trazendo obras desenvolvidas no período em que viveu no Rio de Janeiro, nas décadas de 1970 e 1980. São mais de 50 criações, em diversos meios, como pinturas, esculturas, objetos, aquarelas, serigrafias e desenhos, entre trabalhos históricos e outros inéditos, como pinturas e aquarelas. A artista e seu legado são representados por Nara Roesler. Ponte permanente entre a natureza concreta da abstração moderna e a própria natureza, a pesquisa carioca de Amelia Toledo marca o desenvolvimento de uma obra pioneira, que poderia se qualificar como abstração ecológica. A artista, ao manter o mundo orgânico como fonte e destino de sua obra, foi renovadora das fontes organicistas da modernidade. Além de trabalhos icônicos, como Divino Maravilhoso – Para Caetano Veloso (1971), um livro-objeto em papel, acetato e fotomontagem, dedicado ao cantor e compositor – um dos exemplos na mostra de seu caráter profundamente experimental, com um interesse voltado para formas orgânicas e linguagens pouco usuais, produzidos pela artista na década de 1970 – O rio (e o voo) de Amelia no Rio reúne pinturas e aquarelas inéditas criadas na década de 1980, como as quatro obras da série Anotações da Casa, em acrílica sobre tela, em que a artista busca representar sua experiência com a luz, seu espaço criativo e sua morada no Rio de Janeiro. A diversidade de meios de Amelia Toledo é reveladora de um espírito voltado para uma investigação expandida das possibilidades artísticas. A partir dos anos 1970, a produção da artista ultrapassa a gramática construtiva, que fazia uso de elementos geométricos regulares e curvas, e passa a se debruçar sobre formas da natureza. Ela começa a colecionar materiais como conchas e pedras, e a paisagem passa a se tornar um tema fundamental de sua prática. Já a pintura da artista possui inclinações monocromáticas, revelando seu interesse pela pesquisa com a cor.
A Gentil Carioca – Rio de Janeiro
09 de setembro a 21 de agosto – Forrobodó – coletiva – Os 20 anos da galeria serão marcados pela inauguração da exposição “Forrobodó”, que será uma grande celebração, com performances de diversos artistas, como Vivian Caccuri, Novíssimo Edgar e Cabelo, entre outros, além da obra do artista Yhuri Cruz, na Parede Gentil, projeto no qual um artista é convidado a realizar uma obra especial na parede externa da galeria. Além disso, ainda haverá o tradicional bolo de aniversário surpresa, criado pelos artistas Edimilson Nunes e Marcos Cardoso, que adiantam: “Os desfiles carnavalescos no Brasil e suas configurações locais da América Latina têm como origem as procissões. Esta performance do bolo é uma espécie de procissão onde o sagrado é alimento para o corpo. Ação familiar e fraternal em que a alegria é alegoria de um feliz aniversário”.
Com curadoria de Ulisses Carrilho, a exposição Forrobodó apresentará obras em diferentes técnicas, como pintura, fotografia, escultura, instalação, vídeo e videoinstalação, de cerca de 60 artistas, de várias gerações, entre obras icônicas e inéditas, produzidas desde 1967 – como o B47 Bólide Caixa 22, de Hélio Oiticica – até os dias atuais. “Cruzaremos trabalhos de diversos artistas, a partir de consonâncias e ecos, buscando uma apresentação de maneira a ocupar os espaços da galeria em diferentes ritmos, densidades, atmosferas, cores e estratégias – como dramaturgias distintas de uma mesma obra”, conta o curador.
O nome “Forrobodó” vem da opereta de costumes composta por Chiquinha Gonzaga. “A grande inspiração para a exposição foi a personalidade da galeria, que tem uma certa institucionalidade, com projetos públicos, aliada a uma experimentabilidade, com vernissages nada óbvios para um circuito de arte contemporânea”, conta Ulisses Carrilho.
Ocupando todos os espaços da galeria, as obras estarão agrupadas por ideias, sem divisão de núcleos. No primeiro prédio, haverá uma sala que aponta para o comércio popular, para a estética das ruas, em referência ao local onde a galeria está localizada. Neste mesmo prédio, na parte da piscina, “haverá uma alusão aos mares, que nos fazem chegar até os mercados, lugar de trânsito e troca”, explica o curador. Neste espaço, por exemplo, estará a pintura Sem título (2023), de Arjan Martins, que sugere um grande mar, além de obras onde as alegorias do popular podem ser festejadas.
No segundo prédio, a inspiração do curador foi o escritor Dante Alighieri, sugerindo uma ideia de inferno, purgatório e paraíso em cada um dos três andares. “O inferno é a porta para a rua, a encruzilhada, onde estarão, por exemplo, a bandeira avermelhada de Antonio Dias e a pintura de Antonio Manuel, além das formas orgânicas de Maria Nepomuceno e trabalhos de Aleta Valente sobre os motéis da Avenida Brasil”, conta. No segundo andar, está uma ideia do purgatório de Dante, e, nesta sala, vemos a paisagem, a linha do horizonte, com muita liberdade poética. “É um espaço em que esta paisagem torna-se não apenas o comércio popular, mas o deserto do Saara e as praias cariocas”, diz o curador. No último andar, uma alusão não exatamente ao paraíso, mas aos céus, com obras focadas na abstração geométrica, na liberdade do sentido e na potência da forma, com trabalhos escultóricos de Ernesto Neto, Fernanda Gomes e Ana Linnemann, por exemplo. “São trabalhos que operam numa zona de sutileza, que apostam na abstração e precisam de um certo silêncio para acontecer. Atmosferas distintas, que parte deste forrobodó, deste todo, para de alguma maneira ir se acomodando”, afirma Carrilho.
Os artistas que participam da exposição são: Adriana Varejão, Agrade Camíz, Aleta Valente, Ana Linnemann, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Antonio Manuel, Arjan Martins, Bob N., Botner e Pedro, Cabelo, Cildo Meireles, Claudia Hersz, Denilson Baniwa, Fernanda Gomes, Guga Ferraz, Hélio Oiticica, Neville D´Almeida, João Modé, José Bento, Lenora de Barros, Lourival Cuquinha, Luiz Zerbini, Marcela Cantuária, Marcos Chaves, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Maxwell Alexandre, Novíssimo Edgar, O Bastardo, Paulo Bruscky, Rafael Alonso, Rodrigo Torres, Sallisa Rosa, Vinicius Gerheim, Vivian Caccuri, entre outros.
Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel
02 de setembro a 14 de outubro – Libera abstrahere – Rodrigo Cass – Trata-se da primeira individual do artista desde 2018, reunindo um corpo inédito de trabalhos. Com curadoria de Ana Paula Cohen, a mostra tem como ponto de partida a obra Manifest Material (2021), uma série de 12 pinturas e um texto-manifesto do artista que integra a coleção do Centre Georges Pompidou (Paris, França).
A exposição apresenta 12 vídeo-esculturas e 12 guaches, ampliando a pesquisa central do artista que foca a relação entre a imagem em movimento, o objeto e a arquitetura. As vídeo-esculturas contém vinhetas com ações sintéticas que tomam partes do corpo do artista como agente deflagrador dessas interrelações. As imagens são projetadas sobre poliedros tridimensionais revestidos de linho colorido. A execução de tarefas repetitivas se alterna entre registros de natureza cotidiana e de um ethos contemplativo-espiritual.
Em Liberta a pele do espaço (2023), a grande superfície azul parece uma parede rochosa, cuja textura é dada tanto pela trama do linho quanto pela imagem arenosa. Um simples toque da mão do artista põe em movimento uma cascata de pigmento em pó, animando o espaço dormente e revelando a constituição sedimentar do material, submetido à força modeladora da gravidade. Sobre um fundo bicolor de tons de ocre e terracota, Revolução permanente (2023) mostra o artista friccionando dois tijolos sobre seus pés, até que eles se encontrem enterrados sobre o pó de barro que cai dos blocos. Numa inversão, os pés agora aparecem de ponta cabeça, sustentando um monte de terra em equilíbrio tênue sobre as solas.
O vídeo encena a perpétua transformação da matéria, em um jogo de acúmulo e erosão. As guaches, por sua vez, partem de fraturas, deslocamentos, e expansões da superfície. São composições abstrato-geométricas que lançam volumes virtuais no espaço, conforme a tinta é intercalada com precisos traços de concreto, peça fundamental do seu repertório visual.
A primeira monografia dedicada à obra do artista será lançada no contexto da exposição. Organizado por Ana Paula Cohen e editado pela Cobogó, o livro conta com uma introdução do próprio artista, além de ensaios de Frédéric Paul, curador do departamento de arte contemporânea do Musée National d’Art Moderne/Centre Pompidou, e de Ana Paula Cohen.
Pinacoteca do Estado de São Paulo
02 de setembro a 14 de abril – Cao Fei: o futuro não é um sonho – Os temas que orientam a mostra são: “Manufatura e globalização”, “O passado e o presente do mundo virtual”, “Memórias do socialismo e sci-fi” e “Urbanização e distopia”. O objetivo é introduzir a produção de Fei ao público brasileiro a partir de trabalhos que exploram mídias como o vídeo, a fotografia e a instalação. O interesse de Cao Fei pelos impactos da revolução tecnológica que colocou a China entre os líderes globais no setor orienta a pesquisa da artista desde o início da sua carreira, nos anos 2000.
Um de seus trabalhos mais conhecidos é o filme RMB City (2007); a partir de experimentos no jogo Second Life, uma plataforma virtual que simula a vida real a partir da interação de avatares, Cao Fei construiu uma enorme cidade com diversas referências à China real, aberta ao público de 2009 a 2011 e tida como um grande experimento teste das relações entre o real o virtual.
Outros destaques são os trabalhos “i.Mirror” [i.espelho] (2007) e “Oz” (2022) — que mostram a imersão da artista no Second Life e metaverso permeadas por avatares, experiências e projeções de futuros imaginados a partir da relação entre homem e máquina —, e as videoinstalações “Rumba II: Nomad” [Rumba II: Nômade], 2015, e a obra de realidade virtual “The Eternal Wave” [A onda eterna], 2020, produzida em colaboração com Acute Art.
Em “Rumba II: Nomad” aspiradores robôs tentam inutilmente limpar um espaço recém demolido na periferia de Pequim e em “The Eternal Wave” Fei convida o expectador a fazer uma viagem no tempo utilizando óculos de realidade virtual, visitando as áreas dentro e ao redor do cinema que agora sofre ameaças de demolição.
02 de setembro a 28 de janeiro – Sonia Gomes: sinfonia das cores – Trata-se de uma instalação inédita criada para o Projeto Octógono Arte Contemporânea, da Pinacoteca Luz, nela, a artista enfrenta um desafio inédito em sua carreira; conceber uma obra em escala muito maior do que a habitual, sem renunciar à qualidade artesanal e cromática de seus objetos. A obra contempla 34 cordões suspensos em alturas diferentes, que compõem uma sinfonia de formas e visualidades. É uma reflexão e um produto do modo como o seu próprio corpo reage aos tecidos, na medida em que cria objetos cuja materialidade se liga à história de outras pessoas e cuja escala corresponde ao alcance de seus membros. A produção de Sonia Gomes se desenvolve a partir de materiais como tecidos, linhas, fios e objetos. Junto com as camadas de tecidos e aviamentos, fundem-se técnicas — tecelagem, bordado, renda, costura — e memórias: vestidos, cortinas, toalhas e tecidos diversos que pessoas, conhecidas ou não, enviam para seu ateliê e se transformam em corpos abstratos pelas mãos da artista. Seus trabalhos incorporam elementos da cultura afro-brasileira e desafiam as convenções tradicionais da escultura. A obra no Octógono pode ser apreciada por diferentes pontos de vista, em que as variações e tonalidades dos objetos são percebidas a partir do movimento pelo espaço. Uma trilha sonora complementa a experiência, na qual o violonista Plínio Fernandes performa o Prelúdio Nº 4 para violão de Heitor Villa-Lobos.
OMA Galeria
26 de agosto a 23 de setembro – Instabilidade Fundamental – coletiva – Com curadoria de Alice Granada, Ana Carla Soler e Lucas Dilacerda. A mostra, com 26 artistas, conta com produções envolvendo questões sobre paisagem, arquitetura, corporeidade e materialidade em diferentes meios e técnicas.
A partir da diversidade dos trabalhos, abrangendo a relação entre similaridades e diferenças, a equipe curatorial propôs o título da mostra: “Instabilidade Fundamental”. Citação que faz referência ao psicanalista francês Jacques Lacan (1901 – 1981), que afirmou que todo “equilíbrio” é na verdade sustentado por uma base de instabilidade. A exposição foi pensada como um tratado político de convivência, mostrando a produção de artistas de territórios e trajetórias distintas, constituindo zonas de contato e de fricção entre as obras apresentadas.
Dividida entre os dois andares da galeria, a mostra conta com três núcleos: “Arquiteturas intensivas”, discutindo a relação conflituosa entre as construções humanas, a natureza e as materialidades; “Corporeidades afetivas”, tratando das tensões dos limites entre o corpo, o mundo e o tempo; e “Paisagens sociais”, abordando a subjetividade, o ambiente e a sociedade, compreendendo a percepção também como algo político. Os três eixos da mostra tensionam a relação entre o passado, presente e o futuro, as relações com as tecnologias e a percepção do mundo com tempos dilatados e sobrepostos.
O mote do conceito curatorial partiu da noção de deslocamento apresentada pelos próprios artistas participantes do projeto, que fizeram uma caminhada entre as sedes de São Paulo e São Bernardo da OMA Galeria para pensarem e desenvolveram a exposição.
A exposição coletiva faz parte do processo de discussões e vivências, com encontros quinzenais, propostos pela “8ª Edição do Laboratório OMA de Artes Visuais”, mediadas pelo galerista Thomaz Pacheco. O Laboratório faz parte das ações da galeria que visam a discussão sobre circuito de arte, a profissionalização, e a elaboração de projetos culturais.
A produção da mostra foi realizada pelos artistas participantes do projeto, selecionados por um edital no início de 2023. O grupo se dividiu em quatro frentes: produção, comunicação, educativo e comercial – para trabalharem na execução das diferentes etapas deste projeto. Além da elaboração da exposição e da sua divulgação, o grupo também irá realizar a venda das obras, junto com a galeria e fará ações de mediação em formato presencial e on-line (em datas a serem divulgadas) e também em escolas.
Galeria Raquel Arnaud
26 de agosto a 04 de novembro – A iminência do gesto: da escultura a fotografia – Iole de Freitas – Concomitantemente às exposições individuais Imagem como presença, no Instituto Moreira Salles, e Colapsada, em pé, no Instituto Tomie Ohtake, ambas em cartaz até o fim de setembro, a galeria reúne fotografias concebidas na década de 70 e esculturas recentes. Três exposições que se complementam e percorrem a rica produção de Iole de Freitas.
No primeiro andar da galeria se encontra uma seleção de sequências fotográficas que contam a história da fase inicial da artista, em diálogo com sua produção escultórica recente. Imagens fugazes, etéreas e fragmentadas eram capturadas a partir do deslocamento da artista em espaços internos, como seu próprio ateliê. A série Glass Pieces, Life Slices, exibida na mostra Radical Women Latin American Art (1960-1985) é um dos destaques. A partir de espelhos e objetos cortantes, como facas, Iole criava sequências fotográficas que sugeriam a iminência de uma ação.
Em suas esculturas mais recentes, Iole imprime movimentos nas chapas de aço inoxidável e parece congelar determinados gestos. Ao mesmo tempo em que sugerem leveza, esses objetos têm pontas finas e afiadas. São delicados e cortantes. Cada escultura tem um tratamento diferente do aço e, portanto, a luz absorve ou reflete de formas distintas. Luz e leveza são temas nas séries Spectro, que captura diferentes ângulos e movimentos do corpo da artista, e Roots, que registra os pés de Iole.
Casa Roberto Marinho
25 de agosto a 12 de novembro – Angelo Venosa – Um mergulho na obra de um dos nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira é o que espera o visitante desse importante escultor, nesta mostra panorâmica a ser aberta publicamente no dia 25 de agosto de 2023, na Casa Roberto Marinho. Sob a curadoria de Paulo Venancio Filho, a individual ocupará os 1.200m² de área expositiva do instituto cultural, localizado no Cosme Velho, Zona Sul do Rio de Janeiro, reunindo 85 trabalhos de um arco temporal que vai do início da década de 1970 às últimas obras realizadas em 2021. De acordo com o curador, que acompanhou a trajetória artística de Angelo Venosa (São Paulo, 1954 – Rio de Janeiro, 2022) desde os primórdios, a exposição apresenta um amplo panorama de sua produção absolutamente singular. E revela a complexidade de seu pensamento escultórico expresso em obras de grandes dimensões ou de pequeno formato, construídas a partir da diversa gama de materiais que caracteriza seu processo criativo.
Sem obedecer a uma cronologia linear, o curador selecionou esculturas suspensas, de parede ou de chão. Provenientes de acervos institucionais e de coleções particulares, as peças serpenteiam pelo espaço, emergem horizontalmente ou exploram a verticalidade, incorporando luz e sombra como parte do projeto, e revelando uma inusitada investigação da estrutura e da forma.
A radicalidade experimental que marca a produção de Venosa manifesta-se em cada trabalho. Em sua poética, materiais recorrentes à prática da escultura tradicional, como o bronze, o mármore, o aço e a madeira, se fundem a ossos, dentes de boi, piche, areia, cera de abelha, bandagem, filamentos de café, galho de árvore, breu, fibra de vidro, gesso, tecido e arame.
A panorâmica apresenta os trabalhos negros do início da carreira — estruturados a partir de madeira, tecido e tinta — em diálogo com a produção recente, estabelecendo relações plásticas entre as peças. Um autorretrato em xilogravura, de 1972, é a obra mais antiga em exibição. No térreo, há um espaço dedicado aos desenhos, anotações e esboços do artista que tinha grande fluência no traço. Completa a seleção uma série de retratos em acrílica sobre papel produzida por Luiz Zerbini, grande amigo de Venosa. A mostra contempla, ainda, uma cronologia ampliada organizada por Ileana Pradilla Ceron.