Alemanha, arte em foco

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A Alemanha como conhecemos só ganhou limites e foi assim denominada no século 19, por isso sua história anterior esteve tão atrelada a outras culturas, principalmente de línguas alemãs como as da Áustria, Alsácia e parte da Suíça. O país foi influenciado, mas sobretudo influenciou, tendo desempenhado um papel crucial no desenvolvimento da arte ocidental – seja como preservadora da sabedoria e da cultura popular (a relembrar dos célebres irmãos Grimm, que eternizaram contos milenares; ou dos relógios cuco produzidos à mão na Floresta Negra até hoje), seja como pioneira de movimentos que mudaram a relação estética com o mundo.

 

Vamos falar de cinco temas que nos chamaram a atenção:

 

  1. Romantismo
  2. Expressionismo
  3. Cinema
  4. Escola Bauhaus
  5. Arte urbana

 

 

  1. ROMANTISMO

Nascido no final do século 18, o Romantismo alemão nasce para se contrapor ao culto exagerado pela Razão, que veio com o Iluminismo. A intenção era gerar um reencantamento com a realidade, se afastar da ideia de que o homem é só Razão, lembrar que há uma vida interior a ser revelada, se reconectar com a natureza.

German Romanticismo
German Romanticismo

O movimento surgiu em 1797 por poetas, escritores e ícones da filosofia que se uniam ao redor da revista Atheanum. As ideias logo se pulverizaram pela Alemanha, influenciado poetas e escritores como Goethe e Schiller; compositores como Beethoven; as artes plásticas em escolas como as de Berlim e Frankfurt.

 

Para se inspirar:

 

– Ler Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe

livro os Sofrimentos do Jovem Werther de Goethe

– Ouvir e assistir ao 1º movimento da 5ª sinfonia de Beethoven, interpretado pela Bachiana Filarmônica SESI-SP e maestro João Carlos Martins

– Visitar o Deutsches Romantik-Museum, em Frankfurt – museu dedicado à história da era Romântica

Deutsches Romantik-Museum

  1. EXPRESSIONISMO

Essa vanguarda europeia nasceu como uma rejeição das convenções de se fazer a arte tradicional no Ocidente. Uma de suas influências veio da psicanálise de Freud e sua maneira de pensar o inconsciente, levando a um olhar mais emocional e profundo do Ser.

O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920)
O Gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1920)

Em oposição ao Impressionismo, movimento anterior, o Expressionismo vai contra a ideia de positivismo e imitação da realidade. As pinturas trazem a subjetividade e o sentimento inconsciente do indivíduo. Havia, sobretudo, dramaticidade e a desilusão com a sociedade, principalmente com a promessa da Primeira Guerra Mundial se aproximando. O auge do movimento se deu na Berlim dos anos 1920.

 

Artistas brasileiros como Anita Malfatti, Cândido Portinari e Iberê Camargo beberam dessa fonte e tiveram grandes inspirações nos artistas alemães.

 

Pinturas de alemães que nos impactam e onde encontrá-las:

 

– “Pão!”, de Käthe Kollwitz – Käthe Kollwitz Museum, em Berlim

Kathe Schmidt Kollwitz Bread 1924 MeisterDrucke 288597

 

– “Cinco Mulheres na Rua”, de Ernst Ludwig Kirchner – Museu Ludwig, em Colônia

cinco mulheres na rua

 

– “Dois Gatos”, de Franz Marc – Franz Marc Museum, em Kochel am See, na Bavária

dois gatos

– “A Freira”, de Otto Dix – MoMA, em Nova York

 

“A Freira”, de Otto Dix – MoMA, em Nova York

  1. CINEMA EXPRESSIONISTA

Inspirado nas pinturas expressionistas, a indústria cinematográfica alemã apresentou seus temas por meio da experiência pessoal e da subjetividade.

Isso foi possível graças a técnicas como o uso de ângulos altos, fortes contrastes de luz e sombra e cenários distorcidos.

 

Depois de testemunhar os horrores da guerra e a devastação econômica, essa arte floresceu. Foram feitos muitos filmes influentes, com destaque para O Gabinete do Dr. Caligari, dirigido por Robert Wiene; Metropolis, dirigido por Fritz Lang; e Nosferatu, de F. W. Murnau.

 

Dicas em Berlim para os fãs de cinema:

– Ir ao Deutsche Kinemathek – Museum for Film and Television

– Participar do Berlinale, festival de cinema que ocorre anualmente em fevereiro

 

 

4.ESCOLA BAUHAUS

Fundada em 1919 pelo arquiteto Walter Groupious, essa escola foi um dos principais polos do modernismo europeu.

Reunia engenheiros, arquitetos, pintores, artesãos, designers e artistas industriais, que pesquisavam e construíam protótipos para serem produzidos em escala industrial, atendendo, por um lado as necessidades da sociedade alemã com uma economia dizimada no pós-Guerra, por outro, o ideal comunitário de levar a arte moderna a todos os níveis sociais criando assim o artista-artesão.

haus

A escola revolucionou ao buscar formas e linhas mais simples, ligadas à funcionalidade e a economia de materiais. A ideia era que eles pudessem ser produzidos rapidamente e com baixo custo. Muito do que vemos hoje com o visual clean foi influenciado pelo design Bauhaus. A Apple ou o próprio Oscar Niemayer tiveram essa influência.

A Bauhaus encerrou suas atividades definitivamente em Berlim, em 1933, por determinação dos nazistas.

 

Nos chamou a atenção que, apesar do ideal democrático, a escola tinha algumas limitações um pouco machistas. Pouquíssimas mulheres tiveram a oportunidade de frequentá-la, essas, tendo que, em sua maioria, se limitarem ao departamento de têxteis.

 

Três alunos da Bauhaus com trabalhos expostos em Nova York:

 

– Autor da máxima “menos é mais”, Mies van der Rohe ganhou fama por seus arranha-céus de vidro e aço como o Seagram Building.

 

– Mais interessada na pintura, Anni Albers foi uma das mulheres obrigadas a se manterem no departamento têxtil da escola. Os tecidos pictóricos são suas obras mais conhecidas. Algumas peças podem ser vistas no MoMA.

 

– Marianne Brandt foi uma exceção e, apesar de ter começado na área têxtil, conseguiu abrir espaço em uma disciplina reservada apenas para os homens: o metal. O design de suas chaleiras foi um dos mais difundidos pelo mundo durante o período. Essa e outras peças de sua autoria em destaque também no MoMa.

 

 

Dica extra!

Assistir ao filme “Bauhaus” (Lotte am Bauhaus), dirigido pelo alemão Gregor Schnitzler. Dá destaque às mulheres que tiveram papel artístico e político tão importante na escola, tratando do tema da desigualdade de gênero.

 

 

 

5.ARTE NO ESPAÇO URBANO

 

Foi durante a Guerra Fria que a arte de rua se tornou popular. Os muros e paredes eram preenchidos por propaganda política ou eram usados como espaços para a juventude protestar. Hoje, os grafites, estêncils, pôsteres e esculturas espalhadas não apenas mudaram a imagem das grandes cidades, que são marcadas por construções erguidas sob o comando de regimes totalitários, como também expressam o espírito de toda uma época.

Muitas das práticas continuam ilegais, mas hoje há alguns espaços próprios para a sua exibição, caso do Urban Nation, um museu instalado em um edifício histórico de Berlim, que reúne mais de uma centena de trabalhos de artistas da cena cultural urbana do mundo todo.

Onde mais encontrar arte urbana em Berlim:

– Haus Schwarzenberg, uma espécie de “beco”, que pertence a um coletivo de artistas que permite que qualquer outro artista crie sua arte ali. Há também restaurantes, lojas de discos de vinil e roupas moderninhas.

– East Side Gallery é onde fica o maior pedaço preservado do Muro de Berlim, onde, em 1990, 118 artistas de 21 países deixaram suas marcas documentando sua época e expressando as expectativas para o futuro. A obra mais famosa é o “Beijo Fraternal” (“Bruderkuss”) entre Leonid Brejnev (antigo secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética) e Erich Honecker (antigo secretário-geral do Partido da Unidade Socialista).

 

 

 

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