Antes dos anos 600 d.C., quando nasceu o islamismo, a Arábia vivia em uma cultura tradicionalmente patriarcal, o que contribuiu para que, mais tarde, a leitura do Alcorão tivesse interpretações muito enviesadas com relação ao papel da mulher na sociedade.
A Sharia, ou as leis baseadas no Alcorão, prevê diferenças nas funções, nos direitos e deveres de homens e mulheres. Ainda hoje há muita restrição para elas, que precisam de permissão de homens para estudar, trabalhar e se relacionar.
Por isso dizemos que, quando uma mulher tem sua voz ouvida, ela está representando tantas outras que são obrigadas a se manter silenciadas. Ela resiste. Está dando pequenos grandes passos políticos rumo à igualdade, à liberdade de opinião, de transformar um pouco o mundo, de ser quem se é.
Emociona ver quantas mulheres maravilhosas conseguiram se destacar nessa profissão culturalmente masculina para o Islã… Todas trazem suas mensagens, lutas coletivas, dores pessoais, seus medos, mas, sobretudo, alguma esperança.
Abaixo as quatro artistas que vêm fazendo barulho:
- 1 – Alia Ali, filha de mãe bósnia e pai iemita, é considerada uma dar artistas mais promissoras de 2022 pelo Artsy Vanguard. Se autointitula “culturalmente muçulmana, ainda que espiritualmente livre”. Amo suas fotos-esculturas que utilizam materiais têxteis para criar distorções ópticas. A inspiração vem de suas raízes iemitas e do ikat, tecelagem artesanal cujos fios são tingidos antes de serem tecidos. Do indonésio, ikat significa “ligar” – exatamente o que faz Ali ao investigar conexões entre as histórias da colonização da região e a comercialização internacional deste tecido.
Para seguir: @studio.alia.ali
- 2 – Shamsia Hassani nasceu refugiada em Teerã, Irã, para onde seus pais migraram durante a guerra no Afeganistão. Desde que voltou a Kabul, em 2005, é considerada a primeira mulher grafiteira do Afeganistão. Hoje é também professora, escultora e fundadora do coletivo Rosht. Apesar das constantes ameaças que recebe do Talibã, segue firme com a sua produção. Sua obra dá voz à experiência das mulheres afegãs. Os últimos trabalhos, que incluem a recorrente imagem de dentes-de-leão, me trazem uma sensação de esperança.
Para seguir: @shamsiahassani
- 3 – Shirin Neshat, nascida no Irã, ganhou notoriedade por suas fotografias e vídeos que retratam os contrastes e tensões entre o Islã e Ocidente, o feminino e o masculino, o público e o privado, entre outros. Destaque para a fotografia “I Am It’s a Secret” (1993) da série “Woman of Allah”, que ela criou nos anos 1990 depois do seu primeiro retorno ao Irã pós-revolução. Cheia de simbolismos, me parece ser de uma beleza melancólica e potente. Uma espécie de contradição, mostrando o empoderamento de Neshat ali, mirando a câmera e nos enfrentando, apesar de todo o contexto ir contra tal atitude.
- 4 – Zaha Hadid, de origem iraquiana, , que morreu em 2016, foi uma das grandes visionárias da arquitetura do século 21. Seus projetos futuristas esbanjam fachadas curvas, ângulos agudos e materiais como concreto, aço e vidro. Foi a primeira mulher a vencer o prêmio Pritzker na história (o Nobel da arquitetura, em 2004). As construções que mais me impactam são a Guangzhou Opera House, em Guangzhou; o Galaxy Soho, em Pequim; o Pavilhão da Ponte de Saragoça, Espanha; e The Serpentine Sackler Gallery, em Londres. (Serpentine Sackler Gallery)